quarta-feira, outubro 2, 2024
InícioEconomiaComitê independente alega que sofreu limitações para investigar Americanas

Comitê independente alega que sofreu limitações para investigar Americanas

Um relatório do comitê independente da Americanas, criado para investigar o escândalo que envolve a varejista, mostra que os responsáveis por avaliar o caso tiveram dificuldades de acesso a informações.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o documento foi concluído há mais de dois meses, mas ainda não foi divulgado publicamente pela companhia. Nesta semana, a Justiça disponibilizou o relatório nos autos do processo.

O comitê independente, criado em 2023, é formado pelo advogado Otávio Yazbek; pelo professor Eduardo Flores, que dá aula de contabilidade na Universidade de São Paulo; e pelo executivo Antonio Manso, com passagens por empresas como Fibria e Latam.

O relatório mostra que a investigação enfrentou limitações por causa do desligamento de funcionários antes que pudessem ser entrevistados. Além disso, o acesso aos dados de algumas pessoas relevantes foi apenas parcial.

Ao todo, 15 integrantes dos conselhos de administração e fiscais e comitês de auditoria e financeiro da Lasa, da B2W e da Americanas concordaram em compartilhar seus dados, desde que filtrados conforme critérios estabelecidos previamente.

As dificuldades do comitê independente

Entre as limitações, a investigação independente também menciona a falta de acesso aos acordos de delação dos ex-executivos Marcelo Nunes e Flávia Carneiro. Ambos recebem da Americanas um pacote de benefícios pela delação.

A Americanas alega que não teve ingerência na investigação. Em nota, declarou não ter poderes coercitivos para requerer esclarecimentos e que o comitê atuou diretamente com os afastados pela companhia para coletar informações.

O relatório também destaca o papel dos bancos em diversos momentos, incluindo trocas de e-mails entre funcionários das instituições e executivos da varejista no contexto do risco sacado. O risco sacado, ou confirming, envolve crédito bancário para antecipar pagamentos a fornecedores. No caso da Americanas, essa operação foi usada para maquiar a real situação financeira da empresa.

Em depoimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no começo de 2023, o bilionário Beto Sicupira, então integrante do conselho de administração e um dos principais acionistas, afirmou que a Americanas nunca teve histórico de risco sacado e que esse tipo de operação jamais foi levado ao conselho.

A resposta dos bancos

Em um trecho sobre risco sacado, o relatório apresenta trocas de e-mails entre funcionários da Americanas sobre reuniões com o Santander.

De acordo com o relatório, no dia 27 de março de 2017, o funcionário da Americanas Tiago Costa elaborou um resumo de uma reunião com o banco, realizada em 24 de março.

“O banco entende que o melhor posicionamento é não dar disclosure total da operação”, relata Costa a Fábio Abrate, ex-diretor financeiro da varejista, referindo-se ao termo contábil usado para descrever o processo de fornecimento do acesso público a informações financeiras de uma empresa, com o objetivo de dar transparência a esses dados. “O ideal é lançar no balanço como uma rubrica especial ou como subitem destacado, dentro da linha de fornecedores. Das duas formas, é preciso tratar do assunto nas notas explicativas.”

Depois, Abrate enviou um e-mail para Costa e perguntou qual é a data do comitê do Santander. Costa respondeu que o dia depende da agenda de Sérgio Rial, então CEO do Santander, que assumiu a Americanas em janeiro de 2023.

Procurado, o Santander afirmou que não tem ingerência, supervisão nem responsabilidade sobre as demonstrações financeiras da Americanas. “O estudo sobre operações de confirming a que se refere o relatório tratava-se, na verdade, de material de orientação aos clientes sobre o tratamento fiscal e contábil deste produto, em obediência às regras da autoridade reguladora”, informou o banco. “Sendo assim, o Santander repudia qualquer insinuação contrária à lisura e correção em sua relação com a empresa, reiterando ter sido também vítima das fraudes.”

Ex-CEO da Americanas vive na Espanha

Em outro ponto, o relatório mostra uma troca de mensagens com emojis de risadas do então diretor Fabien Picavet, sobre venda de ações da Americanas. No diálogo, ainda em 2022, seu ex-colega Raoni Lapagesse afirma que Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, seria investigado por vender ações antes do anúncio de sua saída da companhia. “Mas aí ele já estará foragido em Madri”, diz Lapagesse.

Gutierrez tem cidadania espanhola e hoje mora na capital espanhola. Em agosto, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) lhe concedeu habeas corpus.

Em nota, a defesa de Gutierrez declarou que os fatos apresentados no relatório não são conclusivos e que o documento não caracteriza fraude contábil nem autoria ou materialidade de crimes.

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui