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“Cometa sem cabeça” pode atravessar o céu no Halloween

Neste ano, dois cometas disputaram o título de “mais brilhante do século”. O primeiro, C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS), garantiu, no máximo, a liderança da década. O outro, designado C/2024 S1 (ATLAS), por sua vez, além de não atender às expectativas de luminosidade, ainda pode ser desmembrado – transformando-se em um “cometa sem cabeça”.

Este seria um personagem perfeito para os céus do Halloween (Dia das Bruxas, celebrado nos EUA e outros países em 31 de outubro) ou mesmo para o Dia do Saci, comemoração alternativa no Brasil na mesma data.

Cometa ATLAS (C/2024 S1) capturado em 29 de setembro, aparecendo como uma penugem nesta imagem em preto sobre branco, e as estrelas como listras pretas. Crédito: Andrea Aletti e Luca Buzzi (Observatório do Sul de Schiaparelli)

Há duas semanas, o Olhar Digital noticiou que o objeto, pertencente à família Kreutz de cometas rasantes, estava em um processo de desintegração, sendo desclassificado da corrida pelo título de “Cometa do Século”. 

Acontece que uma nova onda de especulação surgiu há poucos dias na mídia internacional dizendo que o cometa poderia se tornar um “deleite de Halloween”, possivelmente brilhando tanto que seria visível durante o dia. Essa afirmação, no entanto, é enganosa.

Já se observam sinais de sua fragmentação, o que pode explicar sua lenta luminosidade enquanto se dirige para um encontro próximo com o Sol. 

Geralmente, quando um cometa chega perto da nossa estrela, tende a aumentar seu brilho rapidamente. No entanto, faltando apenas uma semana para o ATLAS se aproximar da fotosfera solar, sua luminosidade está em torno da magnitude 10. Isso é 40 vezes mais fraco do que a estrela mais opaca visível a olho nu – e há indícios de que sua visibilidade está diminuindo.

Tudo indica que, há quase mil anos, um enorme cometa se fragmentou em inúmeros pedaços de tamanhos variados. É provável que esses fragmentos tenham se quebrado repetidamente enquanto orbitavam o Sol, resultando em ciclos que variam de aproximadamente 500 a 800 anos.

Cada uma dessas peças parece oscilar extremamente perto do Sol, chegando a menos de um milhão e meio de km de distância. O cometa ATLAS seria um desses fragmentos, com previsões orbitais indicando que ele deve chegar a meros 548,8 mil km na segunda-feira (28). A essa distância tão curta, o objeto será submetido a temperaturas extremas e forças gravitacionais intensas, o que pode resultar em sua total destruição.

Cometa C/2024 S1 (ATLAS) com um brilho bem fraco no lado direito da imagem, obtida em 21 de outubro de 2024 em Lynchburg, Virginia, EUA. Crédito: David Thomas via Spaceweather.com

Caso o cometa saia intacto desse encontro, qualquer pessoa pode acompanhá-lo durante o periélio (passagem mais próxima do Sol), acessando as imagens em tempo real do coronógrafo LASCO C3, do Observatório Solar e Heliosférico (SOHO) – uma colaboração entre a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA). Essa mesma tecnologia permitiu que os astrônomos seguissem o cometa Tsuchinshan-ATLAS no início do mês.

Desintgração do objeto é quase certa

Descoberto em 27 de setembro no Havaí pelo projeto ATLAS (Sistema de Último Alerta de Impactos de Asteroides com a Terra), o objeto foi inicialmente identificado como “A11bP7I”. Após observações adicionais, foi confirmado como um cometa da família Kreutz, o que gerou grande expectativa, uma vez que alguns cometas desse grupo são conhecidos por suas impressionantes caudas luminosas – o que, infelizmente, não foi o caso desta vez.

Em entrevista ao site Space.com, o astrônomo Qicheng Zhang, do Observatório Lowell no Arizona, disse que o cometa “quase certamente se desintegrou”, com pouco ou nada restando de seu núcleo. Mesmo nas melhores condições, ele poderá se apresentar apenas como uma cauda dispersa e de curta duração após sua passagem pelo Sol.

Cometas sem cabeça não são uma novidade na astronomia. Em 1887, o Grande Cometa do Sul era quase totalmente composto de cauda. Da mesma forma, o cometa Lovejoy, em 2011, se desintegrou antes do Natal, deixando uma cauda brilhante visível tanto da Terra quanto da Estação Espacial Internacional (ISS).

O cometa Lovejoy visto perto do horizonte da Terra atrás da luminescência atmosférica nesta imagem noturna fotografada pelo astronauta da NASA Dan Burbank, comandante da Expedição 30, a bordo da Estação Espacial Internacional em 22 de dezembro de 2011. O cometa se desintegrou logo em seguida, deixando apenas a cauda. Crédito: NASA / Dan Burbank)

Próximos marcos na órbita do cometa C/2024 S1 (ATLAS):

De acordo com o guia de observação Starwalk.space, os próximos pontos importantes do caminho do cometa são os seguintes:

24 a 28 de outubro: aproximando-se do periélio

À medida que o cometa se aproxima do Sol, seu brilho aumenta. Também é o ponto mais perigoso em sua trajetória, pois C/2024 S1 chegará extremamente perto do Sol e pode se desintegrar. O objeto pode ser observado antes do amanhecer no Hemisfério Sul e em áreas mais ao sul do Hemisfério Norte. No periélio, C/2024 S1 estará a apenas 2º do Sol no céu.

  • 25 de outubro: entra na constelação de Virgem, onde o Sol também está localizado.
  • 28 de outubro: alcança o periélio, com um brilho máximo esperado de -5.1, mas será difícil de detectar devido ao brilho do Sol.

29 de outubro a 6 de novembro: após o periélio

Se o cometa sobreviver ao seu encontro próximo com o Sol, ele se afastará, brilhando intensamente e desenvolvendo uma cauda mais longa – possivelmente, “sem cabeça”. C/2024 S1 se moverá de uma distância de 3º a 14º do Sol no céu nessas datas. Para o Hemisfério Norte, este será o melhor momento para observar o objeto.

  • 31 de outubro: passa pela estrela Espiga, a mais brilhante da constelação de Virgem.
  • 6 de novembro: entra na constelação de Corvus.

Via Olhar Digital

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