domingo, julho 7, 2024
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Com recorde de incêndios, presidente do IBGE reclama de falta de estrutura

O Brasil registrou recorde de incêndios nos três principais biomas do país: a Amazônia, o Pantanal e o cerrado. Nesses dois últimos, o número de focos de incêndios é o maior desde o início das medições, há 36 anos, em 1988.

Diante do caos instalado neste ano, Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), defende a necessidade de redesenhar a estratégia de enfrentamento e prevenção de incêndios no Pantanal, enchentes e outros eventos climáticos extremos.

“A gente domina técnicas de combate a incêndios, tem brigadistas, mas nunca teve uma frota de aeronaves, uma estrutura”, disse Agostinho em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. “O Brasil tem uma das coisas mais legais do mundo, que é a esquadrilha da fumaça, mas não tem uma esquadrilha contra o fogo.”

Medidas de combate

Nesta semana, o governo disponibilizou aeronaves militares para ajudar no combate. A falta de aviões e helicópteros atrasa as operações. Agostinho informa que os órgãos ambientais atuam com um plano elaborado depois de os incêndios de 2023 e que o órgão conta hoje com 2.100 brigadistas, esperando chegar a 2.400 até o final do ano.

“Mas, mesmo com tudo que a gente tem desenhado até aqui, talvez seja insuficiente”, afirmou. “E aí temos que olhar para o que podemos repensar. O desafio é montar uma estrutura à altura da crise climática. Essa estrutura o Brasil ainda não tem. Não é uma crise do Ibama: é nacional, envolve estados e municípios.”

Causas da seca e impacto no Pantanal, que registrou recorde de incêndios

Segundo Agostinho, alguns fatores explicam a seca incomum no Pantanal nesta época do ano — ocasionando os incêndios. O presidente do Ibama apontou que, há seis anos, as tradicionais cheias que alagam as planícies e umidificam o solo não têm ocorrido. Além disso, o avanço do agronegócio na região trouxe desmatamento e especulação imobiliária.

A destruição da mata ciliar nas cabeceiras dos rios que correm para o Pantanal reduziu o volume de água. Além disso, o degelo nos Andes, que também abastece a região, foi pequeno neste ano. Ambientalistas estudam a ligação entre as chuvas no Rio Grande do Sul e a seca precoce no Pantanal, afirma o presidente do Ibama.

Prolongamento da temporada de incêndios

O cenário preocupa, afirmou Agostinho, pois a estratégia de combate a incêndios é baseada em uma temporada de seca de seis meses. A deste ano deve durar oito, talvez até mais. Um período de fogo maior exige mais recursos e mão de obra — a maior parte dos brigadistas é contratada temporariamente, com base na projeção dos seis meses.

O trabalho também se intensifica com as condições climáticas, uma vez que, na seca severa, os incêndios se espalham com rapidez, sendo que 95% deles surgem em propriedades privadas, a maioria por ação humana.

“A gente tem um plano, mas ele não consegue prever onde as pessoas vão colocar fogo, e 99% do fogo é colocado”, declarou o especialista. A maior parte do Pantanal está na mão da propriedade privada. Alguém faz uma fogueira para São João, ou para cozinhar, ou uma queima controlada, e perde o controle”, diz Agostinho.

Medidas governamentais e investigação do número recorde de incêndios

Atualmente, tanto o estado de Mato Grosso quanto Mato Grosso do Sul proibiram qualquer tipo de uso do fogo. O Ministério da Justiça investiga casos de incêndios criminosos.

Para o presidente do Ibama, as técnicas e instrumentos de monitoramento climático melhoraram muito nos últimos anos, mas ainda precisam de mais investimento. O nível de todo o rio Paraguai, por exemplo, é medido por uma única régua.

Ele destacou que a quantidade de matéria orgânica inflamável neste ano é menor do que em 2020 e 2023 — quando o bioma viveu outras duas crises históricas de incêndio. Com menos “combustível”, é possível que o fogo não tenha tanta força agora quanto nos outros casos.

Também afirmou que, depois de os cortes do Congresso e do governo, já recompôs o orçamento do Ibama. O Ministério do Meio Ambiente, segundo ele, busca recursos extraordinários para o combate às queimadas — R$ 100 milhões foram liberados e a pasta de Gestão e Inovação sinaliza que atenderá mais demandas.

“Hoje tenho um orçamento um pouquinho melhor do que o ano passado, mas nossa grande preocupação é a seguinte: a crise está só começando”, afirmou. “Estamos em junho, e essa seca era para acontecer em setembro. A gente não sabe quando se ela vai passar, não temos garantia de que em novembro vai começar a chover.”

Agostinho enfatiza ainda que, pela quantidade e variedade de eventos climáticos extremos, o país precisa ampliar suas estratégias em diferentes frentes.

“O Brasil precisa de uma estratégia não só para incêndios, mas para outras crises: enchentes, abastecimento de água, o mar subindo”, sinalizou. “Mas não basta um plano por um plano. Ele tem que se transformar em política pública, não pode ser um plano de governo, tem que ser de Estado, ser estruturado de forma contínua. Se você não o implementar, é apenas um papel.”

Via Revista Oeste

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