O cerrado registrou a maior área desmatada entre os biomas brasileiros em 2023, primeiro ano da volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, superando a Amazônia pela primeira vez desde o início do levantamento do Relatório Anual de Desmatamento (RAD). A rede MapBiomas, responsável pelo estudo, destacou que o cerrado representou 61% do desmatamento total no país, com mais de 1,1 milhão de hectares devastados.
O desmatamento no cerrado aumentou 67,7% em relação ao ano anterior, enquanto a Amazônia teve uma redução de 62,2%. No Brasil, o desflorestamento totalizou 1,8 milhão de hectares, uma queda de cerca de 12%.
Entre os outros biomas, o pantanal e a caatinga registraram aumentos de 59% e 43%, respectivamente, enquanto o pampa e a mata atlântica tiveram quedas de 50% e 60%.
Dados regionais — além do cerrado
O Maranhão liderou o desmatamento em 2023, com 331,2 mil hectares suprimidos, um aumento de 95,1%. Bahia e Tocantins, com 290,6 mil e 230,2 mil hectares desflorestados, respectivamente, também se destacaram. Esses estados fazem parte do Matopiba, região que abrange áreas do cerrado em Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
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O Matopiba, com 73 milhões de hectares, responde por cerca de 10% da produção de grãos e fibras do país, especialmente soja, milho e algodão. Grandes empreendimentos agropecuários na região recebem licenças ambientais.
“Temos que entender que não é porque a reserva legal é menor no cerrado que todo o desmatamento vai ser legal”. afirma a diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar, segundo o portal UOL. “Na realidade, precisamos sim ter claramente o número da ilegalidade para que as ações de comando e controle possam ser efetivas, assim como as ações de desestimulo a abertura de novas áreas também.”
Desmatamento em reservas legais
O cerrado foi o bioma com maior aumento de desflorestamento dentro de reservas legais em 2023, com um crescimento de 136%. De 2019 a 2023, 8,5 milhões de hectares de vegetação nativa foram desmatados no Brasil, sendo 52% na Amazônia e 39% no cerrado. A área total desflorestada equivale a quase duas vezes o território do Estado do Rio de Janeiro.
Na Bahia, 51,8% do desmatamento nos últimos cinco anos foi autorizado por órgãos ambientais, enquanto no Tocantins esse índice foi de 47,7%. Em Mato Grosso do Sul, apenas 0,01% teve autorização.
“Combater o desmatamento no cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma”, afirma Ane. “Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar políticas públicas e privadas, que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando uso mais eficiente das áreas já desmatadas.”
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