Uma equipe formada por pesquisadores da Alemanha, EUA e França fez uma descoberta que torna os neandertais mais inteligentes do que se pensava. O grupo examinou ferramentas de pedra que estavam embrulhadas – e até esquecidas – desde a década de 1960 no Museu de Pré-História e História Antiga de Berlim e encontrou evidências de que essa espécie de hominídeo utilizava cola para fixar suas ferramentas pré-históricas.
Para quem tem pressa:
- Pesquisadores descobriram indícios de cola em ferramentas dos neandertais;
- Essa cola parece ter sido uma mistura de betume e um pigmento natural;
- A descoberta sugere que os neandertais eram mais inteligentes do que anteriormente se pensava;
- Isso porque as técnicas identificadas são semelhantes às utilizadas pelos primeiros Homo sapiens que surgiram na África.
Relatada em um artigo publicado este mês na revista Science Advances, a descoberta aconteceu depois que os pesquisadores resolveram investigar ferramentas de pedra no acervo guardado do museu. As análises revelaram que os artefatos continham vestígios de betume, que pode ser extraído a partir do petróleo ou naturalmente do solo. O material parece ter sido usado para formar cabos nas pedras, que parecem tê-las tornado mais fáceis de serem manuseadas.
Para utilizar adequadamente o betume, os neandertais tinham que fazer uma mistura com o pigmento natural ocre. A proporção dos materiais parece ter sido ideal para a mistura grudar na pedra e formar cabos, mas não grudar nas mãos de quem utilizasse a ferramenta, o que, segundo os pesquisadores, sugere um alto nível de raciocínio para esses hominídeos.
Estas ferramentas surpreendentemente bem preservadas apresentam uma solução técnica muito semelhante a exemplos de ferramentas feitas pelos primeiros humanos modernos na África, mas a receita exata reflete um ‘giro’ Neandertal, que é a produção de cabos para ferramentas manuais.
Radu Iovita, coautora do estudo, em comunicado.
Neandertais mais inteligentes
Anteriormente, esse desenvolvimento cultural e cognitivo dos neandertais era apoiado pela habilidade de obter alcatrão das árvores, o que era considerado complexo. No entanto, um estudo conduzido pela Universidade de Tübingen (Alemanha) e pela Universidade de Nova York (EUA) – que inclui autores da nova pesquisa – apontou que essa era uma atividade relativamente simples para espécie a partir dos usos de suas ferramentas.
Mas agora, a descoberta do uso da mistura de betume com ocre nas ferramentas de pedras parece trazer uma nova discussão, apontando que a técnica exige um certo grau de inteligência dos neandertais.
Os adesivos compostos são considerados uma das primeiras expressões dos processos cognitivos modernos que ainda estão ativos hoje. O que o nosso estudo mostra é que os primeiros Homo sapiens em África e os Neandertais na Europa tinham padrões de pensamento semelhantes. Suas tecnologias adesivas têm o mesmo significado para a nossa compreensão da evolução humana.
Patrick Schmidt, principal autor do estudo