domingo, novembro 24, 2024
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Cientistas não sabem origem de fósseis do Brasil – até agora

Brasil, Estados Unidos, Canadá, Índia e alguns países de África e Europa possuem, em algumas rochas, curiosos fósseis em forma de haltere chamados de bifungites.

Na verdade, não são animais fossilizados. Trata-se de tocas deixadas no caminho de uma criatura já extinta. Boa parte dessas bifungites são encontradas em rochas da era Paleozoica, há mais de 300 milhões de anos.

Até hoje, não se sabe quem o que fez esses fósseis, que, apesar de serem considerados fósseis de traço, há quem hipotetize o que eles poderiam ter sido.

O paleontólogo brasileiro Daniel Sedorko, que trabalha com invertebrados no Museu Nacional do Brasil, os estudou por mais de uma década. Em expedição realizada por ele em 2022, ele notou algo diferente.

Segundo o The New York Times, as tocas são tipicamente vazias, pois as criaturas que as construíram eram invertebrados de corpo mole que não costumavam fossilizar direito.

Em rochas expostas no leito do rio Sambito, no Piauí, Sedorko notou a marca de pequeno verme em um bifungite. Em mais análises, ele e sua equipe encontraram mais sete tocas fossilizadas com a mesma marca de verme, o que indica que foram eles os responsáveis por sua criação.

Vermes Annulitubus teriam feito fósseis (Imagem: Daniel Sedorko)

Vermes produzindo fósseis vistos no Brasil

  • No estudo, publicado na Science, os pesquisadores apontam que acreditam ser este o primeiro registro que revela os invertebrados responsáveis pelos bifungites;
  • Carlos Neto de Carvalho, especialista no estudo de vestígios fósseis, ou icnologia, da Universidade de Lisboa, que não estava envolvido no trabalho, considera a descoberta algo emocionante;
  • “Esta é a melhor evidência que você pode obter no registro de vestígios fósseis para descobrir o produtor”, diz. Enfatizando a raridade da novidade, Carvalho aponta que “é mais comum encontrar nova espécie de dinossauro do que encontrar produtor de vestígio fóssil”;
  • O que Sedorko e equipe encontrou sugere que os vermes marinhos que teriam formado as bifungites pertenciam ao grupo Annulitubus;
  • As espécies deste grupo viviam na parte rasa dos oceanos, próximo às costas de supercontinentes pré-históricos;
  • Eles tinham o hábito de cavar tocas no fundo do mar;
  • Por sua vez, as tocas costumam ter formato de pi invertido, ou de U, com a câmara horizontal similar a haltere na base e um eixo vertical em cada extremidade, subindo em direção ao fundo do oceano.

Andrew Rindsberg, paleontólogo da University of West Alabama (EUA) e coautor do estudo, afirma que “é incomum ver o formato de U”. Com o passar do tempo, as correntes de água erodem as tocas, sendo os poços os primeiros a irem embora. Contudo, acrescenta, a metade horizontal inferior tem potencial de se preservar.

Para os pesquisadores, os vermes Annulitubus fizeram as tocas para se protegerem de tempestades selvagens, ou predadores. Possivelmente, eles se enfiaram nas extremidades peculiares, salientes ou em forma de flecha, de cada câmara.

“O animal estava tentando ser consertado. Mas é apenas uma hipótese”, diz Sedorko.

Montagens com fósseis bifungites
Mais exemplos de fósseis bifungites (Imagem: Daniel Sedorko)

Como esses vermes permaneceram preservados?

Outra questão surge: como esses vermes fósseis foram preservados nessas tocas por tantos anos? Pois, durante os milhões de anos, houve tempestades frequentes, segundo Sedorko, sendo que cada uma delas depositava vários metros de sedimento, que, rapidamente, enterraria os invertebrados.

Com o passar do tempo, eles decaíram, mas suas impressões permaneceram preservadas. Para Sedorko, isso “é muito bonito”.

Agora, a equipe espera que sua descoberta incentive icnólogos mundo afora a prestarem atenção nos criadores dos bifungites. Isso porque, mesmo acreditando que foram mesmo esses vermes que os criaram na região brasileira estudada, os investigadores não descartam que outros artrópodes os teriam criado em outras partes do planeta.

Mas de Carvalho atesta que encontrar animais preservados assim “é sempre um momento de sorte. É como ganhar na loteria”.

Via Olhar Digital

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