Magnetares estão entre os objetos mais extremos do universo — uma classe de restos estelares compactos chamados de estrelas de nêutrons, que possuem campos magnéticos imensamente fortes. De vez em quando eles produzem enormes erupções de raios gama, na mais forte liberação de energia não destrutiva conhecida no cosmos.
Os cientistas agora detectaram o exemplo mais distante do qual se tem conhecimento de uma dessas erupções, chamada de explosão gigante, de um magnetar de uma galáxia conhecida como Messier 82, ou M82.
Essa onda de raios gama — a forma mais energética de luz — liberou em apenas um décimo de segundo a quantidade de energia que nosso sol emite em um período de aproximadamente 10 mil anos, afirmaram os cientistas.
Apenas duas explosões gigantes confirmadas foram observadas em nossa galáxia, a Via Láctea, em 2004 e 1998, e apenas uma havia sido identificada em outra galáxia, em 1979, na Grande Nuvem de Magalhães, vizinha da Via Láctea, segundo os pesquisadores.
“Explosões gigantes são eventos muito raros”, disse o astrofísico Sandro Mereghetti, do Instituto Nacional de Astrofísicas (INAF) da Itália, em Milão, principal autor da pesquisa publicada nesta quarta-feira (24) na revista Nature.
“A Via Láctea contém cerca de 30 magnetares, possivelmente muito mais, que não foram vistos emitindo explosões gigantes.”
A M82 — apelidada de “galáxia do charuto” porque, quando vista de frente, tem um formato alongado e semelhante a um charuto — está a 12 milhões de anos-luz da Terra, na constelação Ursa Maior. O ano-luz é a distância que a luz viaja em um ano (9,5 trilhões de kms). A explosão gigante do magnetar da Grande Nuvem de Magalhães estava a cerca de 160 mil anos-luz da Terra.
A explosão gigante do M82 foi a mais distante da qual se tem conhecimento, mas não a mais energética. A de 2004 teve uma energia equivalente a cerca de 1 milhão de anos de produção do sol.
Embora existam eventos cósmicos mais energéticos, como as explosões supernova no final da vida de uma grande estrela e explosões de raios gama causados pela fusão de duas estrelas de nêutrons, esses eventos envolvem destruições, ao contrário das explosões gigantes.
Os magnetares também emitem surtos ocasionais de raios gama e raios X em níveis de energia mais baixos do que as explosões gigantes.
As nascem na explosão e no colapso de estrelas, com 8 a 25 vezes a massa do sol, no fim do seu ciclo de vida. Elas comprimem uma ou duas vezes a massa do sol em uma esfera do tamanho de uma cidade.
“São os objetos astrofísicos mais compactos e densos. Eles são tão densos quanto núcleos atômicos”, disse a astrofísica do INAF e co-autora do estudo, Michela Rigoselli, sobre as estrelas de nêutrons.
A principal característica que diferencia os magnetares de outras estrelas de nêutrons é um campo magnético de 1 mil a 10 mil vezes mais forte do que o magnetismo normal de uma estrela de nêutron e um trilhão de vezes maior que o sol.
“Podemos dizer que os magnetares são estrelas de nêutrons alimentadas pela sua própria energia magnética. Isso não acontece em estrelas de nêutrons comuns”, disse.
“Uma explosão gigante se origina de uma reconfiguração e uma reconexão do campo magnético do magnetar”, acrescentou Rigoselli.
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