Para resistir às ondas de calor marinhas, um evento extremo no qual a temperatura da água fica pelo menos de 2º C a 3°C acima do normal, uma equipe de cientistas está tentando combinar corais, uma espécie particularmente sensível ao fenômeno, para se tornarem mais resistentes.
Quando a água dos oceanos fica muito quente, os corais sofrem um processo de estresse chamado “branqueamento”. Isso ocorre quando esses animais expulsam as algas zooxantelas que vivem em simbiose com eles.
São essas algas que dão cor e alimento aos corais e, sem elas, eles ficam transparentes ou brancos e enfraquecem. Se o estresse térmico continuar por muito tempo, os corais podem até morrer.
Em um estudo recente, publicado na revista Nature Communications, os autores demonstraram “que selecionar colônias parentais com alta tolerância ao calor, em vez de baixa tolerância, aumentou a tolerância dos descendentes adultos (com 3 a 4 anos de idade)”.
Isso comprovou a herdabilidade das intervenções de reprodução seletiva de corais, pois o sucesso do procedimento se manteve, mesmo com as novas populações submetidas a ondas de calor simuladas de mais de 3,5ºC em uma semana e mais de 2,5ºC em um mês.
Como foram criados os corais tolerantes ao calor?
A equipe utilizou técnicas de reprodução seletiva, um método usado por humanos há milhares de anos para escolher propositalmente quais animais e plantas irão se reproduzir conforme as características desejadas. No caso dos corais, foram indivíduos resistentes ao calor.
As conclusões apresentadas neste estudo são o resultado de sete anos de trabalho das organizações Coralassist Lab (da Universidade de Newcastle) e Palau International Coral Reef Center.
O primeiro passo do projeto foi escolher os corais pais conforme a tolerância ao calor.
As colônias progenitoras foram organizadas em duas famílias de indivíduos, uma com alta tolerância ao calor, e outra com baixa. Os descentes foram criados por três a quatro anos, até atingirem sua maturidade reprodutiva, quando foram testados para altas ondas de calor marinhas.
Inicialmente, quando expostos ao calor intenso por dez dias, os corais aumentam sua tolerância em 3,5°C. Posteriormente, uma exposição menos intensa, mas durante 30 dias, levou a um aumento de tolerância de 2,5°C.
Com esses resultados, seria teoricamente possível aumentar a tolerância de calor em 1°C a cada semana dentro de uma geração de corais.
No entanto, os resultados ainda não são tão robustos e há uma tendência de piora nas mudanças climáticas.
Próximos passos no aumento de tolerância ao calor pelos corais
Após demonstrar o sucesso da reprodução seletiva de corais para maior resistência térmica, a equipe se prepara para realizar experimentos em escala natural.
Isso dependerá da implantação de uma quantidade significativa de corais geneticamente selecionados.
Para a efetividade do processo, tanto por meio da liberação direta de larvas de coral nos recifes ou por transplante de colônias criadas seletivamente, é necessário que os corais se tornem reprodutivos e adicionem características genéticas à população natural existente.
Se isso não funcionar em grande escala, uma alternativa viável seria criar uma rede reduzida de unidades reprodutivas estrategicamente distribuídas, mantendo colônias parentais selecionadas em alta densidade populacional para otimizar as taxas de fertilização.
A expansão da base de pesquisa e desenvolvimento permanece crucial, com algumas questões fundamentais ainda não resolvidas. Qual a densidade populacional mínima de corais transplantados necessária para atingir a eficácia desejada? Como otimizar as respostas aos processos seletivos?
Segundo os autores, é preciso que essa otimização e implementação da evolução assistida de corais aconteça o mais rápido possível para ter uma chance, ainda que mínima, de sucesso.
Com o ritmo atual do aquecimento do oceano, alertam em um comunicado, “a sobrevivência dos recifes de corais ainda depende de uma ação climática urgente”.