A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) criticou a ditadura de Nicolás Maduro e declarou que a reeleição do chavista é ilegítima. Em relatório divulgado na última terça-feira, 7, o órgão afirmou que o regime pratica “terrorismo estatal” para incutir medo nos cidadãos.
O documento, intitulado Venezuela: graves violações dos direitos humanos no contexto eleitoral, menciona uma estratégia repressiva atribuída ao regime de Maduro. O relatório destaca a prática de “terror” para silenciar as vozes dos venezuelanos que são contra a ditadura.
“Entre as violações documentadas estão: execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados de curta duração, detenções arbitrárias, tortura e outros tratamentos cruéis”, listou a CIDH. “Desumanos e degradantes, cancelamento de passaportes, mortes violentas e inúmeras violações das garantias judiciais e da liberdade de expressão.”
Uso da força política no regime de Maduro
Além disso, a CIDH destacou o uso da força da polícia de Maduro para matar, ferir e sequestrar pessoas na Venezuela. Além de realizar a prática de censura e restrições da liberdade de expressão.
O documento também menciona falas de Maduro dirigidas à população com o objetivo de amedrontá-la. Como a que ocorreu em 17 de julho de 2024. Na ocasião, o ditador falou sobre um “banho de sangue” em caso de a oposição conseguir assumir o poder.
Outro caso ocorreu em 5 de agosto do ano passado. Durante um ato público, Maduro fez referência à “Operação Tun Tun”, cujo nome alude às batidas nas portas das residências de pessoas perseguidas pelo regime chavista.
O ditador chegou a cantar uma música de Natal cuja letra diz: “Não seja chorão, você vai para o Tocorón”, em alusão a um centro penitenciário, localizado no Estado de Aragua.
Repressão aos jornalistas
Em 7 de agosto de 2024, o então deputado Diosdado Cabello, hoje Ministro do Interior, disse em um programa de televisão que, durante a “Operação Tun Tun”, jornalistas seriam presos.
Além disso, a CIDH afirma que a ditadura de Maduro executou uma estratégia planejada para impedir a participação política da oposição.
O relatório lembra que os resultados oficiais da eleição ainda não foram divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Enquanto isso, a oposição afirma ter compilado mais de 80% das atas digitalizadas a nível nacional. De acordo com essas atas, o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, teria obtido 67% dos votos.
Ex-candidato venezuelano preso
Na noite da última terça-feira, 7, Enrique Márquez, ex-candidato presidencial e ex-vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, foi sequestrado, segundo denúncia da organização não governamental (ONG )Un Mundo Sin Mordaza. A organização exigiu que o regime de Maduro fornecesse informações sobre o paradeiro do político.
“Durante a noite deste 7 de janeiro, o desaparecimento forçado de Enrique Márquez é conhecido oficialmente”, escreveu a ONG, nas redes sociais. “Exigimos que o Estado venezuelano pare com a perseguição e dê respostas sobre o seu paradeiro!”
Márquez, do partido Centrados, havia contestado a decisão da Câmara Eleitoral que validou a vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho de 2024. Ele também declarou que solicitaria ao Supremo Tribunal de Justiça a anulação dessa decisão.
Nesta quinta-feira, 9, dois dias depois da divulgação do relatório da CIDH prendeu a líder opositora María Corina Machado, enquanto participava de manifestação contra a ditadura bolivariana. Ela foi liberta horas depois.
Mesmo sob acusação de frade durante o processo eleitoral, Maduro será empossado para mais um mandato nesta sexta-feira, 10. Países boicotam a solenidade e falam em regime opressor e ditatorial, em sintonia com a CIDH. O governo brasileiro, no entanto, participará do evento, sendo representado por uma embaixadora designada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.