Ainda tem casas por um euro? Sim! Se você achava que as cidades italianas já tinham esgotado as ofertas de imóveis por um euro — cerca de seis reais —, pode ficar tranquilo.
Uma cidade que discretamente tem vendido casas pelo preço de um café está prestes a lançar um novo lote de propriedades — e, dessa vez, o processo está ainda mais vantajoso para os compradores.
Penne, localizada na região central da Itália, em Abruzzo, entre a costa do Adriático e a cadeia montanhosa do Gran Sasso, está vendendo casas abandonadas pelo preço de um espresso para combater a redução populacional.
Desde o início do programa, em 2022, seis casas já foram adquiridas — a maioria por italianos. Segundo o prefeito, um novo lote de algumas unidades será disponibilizado “nas próximas semanas” — e outras devem ser colocadas à venda no futuro.
Não é necessário pagar um depósito de garantia para assegurar um imóvel deteriorado. Tudo o que se exige é o compromisso de reformá-lo.
“No centro histórico, que tem diminuído desde que as famílias começaram a emigrar décadas atrás, há potencialmente mais de 40 edifícios vazios esperando por novos donos”, conta o prefeito Gilberto Petrucci ao CNN Travel.
“Atualmente, Penne tem cerca de 1.200 habitantes, mas somente 1.000 pessoas vivem no nosso belíssimo centro antigo, que pode se tornar uma cidade fantasma.”
Resgatando o passado

Nascido e criado em Penne, Petrucci sentiu que precisava agir para dar nova vida ao coração histórico da cidade antes que fosse tarde demais. “Dói demais ver essas casas abandonadas. É como uma ferida aberta”, diz ele.
As três primeiras casas foram vendidas por um euro em 2022. Outras três foram adquiridas no final do ano passado.
O novo lote segue o padrão das anteriores: construções antigas, algumas medievais com melhorias feitas no período renascentista. Há também imóveis mais recentes, do início do século 20. São casas de até três andares, variando entre 70 e 120 metros quadrados.
Muitas dessas casas pertenciam a famílias de agricultores que partiram em busca de melhores oportunidades, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando bombardeios destruíram parte do patrimônio arquitetônico da cidade.
Outra grande onda migratória ocorreu nos anos 1970, quando muitos moradores foram para os Estados Unidos, Bélgica e Venezuela, ou se mudaram para cidades maiores para trabalhar na indústria.
O centro histórico de Penne se espalha por duas colinas panorâmicas e é um labirinto de portais de pedra e fontes monumentais ornamentadas.
Regras mais flexíveis

Ao contrário de outras cidades que vendem imóveis simbólicos, Penne tem regras mais simples para os compradores.
“A única exigência é que a casa seja reformada em até três anos, sem necessidade de depósito inicial como garantia. Queremos realmente incentivar quem vem revitalizar nosso bairro antigo”, explica Petrucci.
Normalmente, programas de casas por um euro pedem um depósito entre 2.000 e 5.000 euros (cerca de R$ 12,4 mil e R$ 31,1 mil), reembolsado ao fim da reforma.
Outro diferencial do programa de Penne é a assistência especializada. “Temos uma equipe de arquitetos e especialistas que ajudam os compradores em todo o processo de reforma, desde a escolha dos construtores e engenheiros até projeções gráficas de como a casa ficará após as melhorias”, afirma o prefeito.
O custo básico para reformar um imóvel de pequeno a médio porte gira em torno de 20 mil euros (cerca de R$ 124,6 mil).
Se houver muitos interessados em um mesmo imóvel, ele será vendido para quem apresentar o melhor — e mais ágil — plano de reforma.
Para quem não quer enfrentar uma obra, há opções prontas para morar a partir de 40 mil euros (cerca de R$ 249,3 mil).
História, cultura e boa gastronomia
O prefeito define o centro histórico de Penne como um “museu ao ar livre”, onde convivem estilos arquitetônicos medievais, góticos e renascentistas.
“Temos um passado glorioso”, diz ele. “Penne tem raízes milenares visíveis na paisagem. Os primeiros vestígios de assentamentos pré-históricos datam dos Oschi, um povo itálico que vivia nas terras altas para se proteger dos inimigos.”
Durante a ocupação romana, a cidade se chamava Pinna e era um importante ponto de comunicação e comércio. Esculturas, joias e cadeiras romanas ainda podem ser vistas no museu local.
Sua localização privilegiada permite fácil acesso tanto às praias do Adriático quanto às montanhas para os amantes do esqui.
A cidade também realiza anualmente um tradicional Palio — uma corrida de cavalos pelas vielas, semelhante ao famoso evento de Siena, na Toscana.
Na culinária local, destacam-se os cereais cultivados na região, como espelta, milho e cevada, além do famoso trigo duro usado para fazer massas. Os apreciadores da gastronomia encontram azeites extravirgens de alta qualidade e vinhos como o rosé Cerasuolo e o branco Trebbiano d’Abruzzo.
Entre os pratos típicos, há o timballo (uma espécie de lasanha), os maccheroni alla chitarra (massa artesanal cortada como cordas de violão) e os saborosos arrosticini (espetinhos grelhados de carne de carneiro e rim).
Outras cidades com casas por um euro
A Itália se tornou um verdadeiro polo de imóveis simbólicos, especialmente no sul do país.
A Sicília lidera essa tendência, com programas de longa data. Mussomeli, no centro da ilha, viu um grande fluxo de estrangeiros desde o lançamento do projeto — incluindo médicos argentinos que agora trabalham nos hospitais locais.
Perto dali, Cammarata tem um programa conduzido por jovens que voltaram à cidade durante a pandemia.
Outra cidade siciliana famosa é Sambuca, que colocou mais um lote de imóveis à venda no ano passado — atraindo até mesmo compradores italianos.
Além da Sicília, outra ilha italiana que oferece casas por um euro é a Sardenha. Se você sonha em viver na Itália, talvez essa seja a sua chance.
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