Em março do ano passado, a apreensão do celular de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, revelou uma imagem que agora é considerada pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como crucial para entender a motivação por trás do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol).
A foto mostra Brazão tirando uma foto de uma escritura de propriedade em nome da Superplan, empresa da qual ele e sua mulher, Alice Kroff, são sócios, informou a jornalista Malu Gaspar, colunista do jornal O Globo. Esta descoberta ocorreu durante uma operação que também resultou na prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e do delegado Rivaldo Barbosa. Chiquinho é irmão de Domingos.
Os documentos encontrados no celular de Domingos Brazão fortaleceram a hipótese de que o interesse dos irmãos na aprovação de uma lei que relaxava normas ambientais e urbanísticas na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro estava ligado à valorização de terrenos na zona oeste da cidade. Esses terrenos, já possuídos pela Superplan, seriam beneficiados diretamente pela nova legislação, o que permitiria a regularização de construções e terras griladas.
A legislação em questão foi aprovada pouco antes de Marielle ser morta ao lado do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Ela havia se posicionado firmemente contra a regra. Para isso, a então vereadora alegou que a proposta beneficiaria economicamente áreas controladas por milícias.
Conflitos políticos entre Domingos Brazão e Marielle Franco
O vice-procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand Filho, apontou na denúncia que a resistência de Marielle ao projeto de lei, aliada ao histórico de desavenças entre o Psol, partido da vereadora, e os irmãos Brazão, intensificou o conflito.
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“Não há dúvida de que as dificuldades na tramitação do projeto e, sobretudo, o elevado risco de rejeição, somados ao histórico de conflitos com o Psol e Marielle Francisco da Silva, aumentaram o descontentamento dos irmãos Brazão”, afirmou Chateaubriand Filho.
Além disso, a propriedade de um dos terrenos, adquirida de um notório grileiro da região, Pasquale Mauro, e registrada por um valor significativamente menor do que o avaliado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, sugere irregularidades na transação. A escritura deste terreno foi registrada em 14 de maio de 2018. O documento mostra que a compra ocorreu depois da morte de Marielle.
Depoimentos reforçam motivação política no assassinato
A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Domingos Brazão também foi reforçada por depoimentos de Ronnie Lessa. Ele é o assassino confesso de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
“A motivação dos Brazão para eliminar Marielle estava diretamente relacionada à sua oposição ao projeto de lei que beneficiaria os empreendimentos imobiliários dos irmãos em áreas ambientalmente protegidas”, afirmou Lessa, em delação premiada.