Após cerca de sete meses desde a falha do módulo de pouso Peregrine, novos detalhes sobre a missão foram revelados. Lançado em 8 de janeiro, o lander acabou queimando sobre o oceano Pacífico.
A missão, marcada por uma série de contratempos, foi especialmente significativa por ser a primeira do programa comercial de carga lunar da NASA e por estar a bordo do voo inaugural do foguete Vulcan Centaur.
O módulo Peregrine carregava experimentos e artefatos, incluindo bitcoins destinados a estudos lunares. No entanto, após o lançamento, ele passou mais de uma semana vagando no espaço sem alcançar o destino, resultando em sua destruição. Desde então, a Astrobotic Technology, responsável pela espaçonave, tem conduzido uma análise detalhada do fracasso, envolvendo 34 especialistas para identificar a causa principal.
Um relatório divulgado na terça-feira (27) aponta para uma válvula de controle de hélio defeituosa, identificada como PCV2, como a principal culpada pelo insucesso. A PCV2 sofreu uma “perda de capacidade de vedação” devido a uma falha mecânica causada pelo relaxamento dos componentes internos da válvula, conforme explicou John Horack, presidente da equipe de investigação, em uma coletiva de imprensa.
A válvula, essencial para controlar o fluxo de hélio entre os tanques de pressurização e os tanques de oxidante, falhou em manter a vedação adequada, resultando em um vazamento crítico.
Válvulas do módulo lunar Peregrine foram trocadas
Horack comparou o problema com um vazamento de água em uma pia. “A água passa pela vedação e sai do outro lado, mas neste caso, era hélio a alta pressão, o que torna o problema mais complexo.” O relatório revela que o PCV2 era um risco conhecido para a missão.
A Astrobotic havia trocado de fornecedor de válvulas em agosto de 2022 após falhas repetidas nos componentes originais. Embora o PCV1, responsável pelo fluxo entre o tanque de pressurização e os tanques de combustível, tenha sido rapidamente corrigido, o PCV2, localizado em uma área de difícil acesso, não passou por uma revisão adicional.
A equipe de investigação simulou as condições que o PCV2 enfrentou no espaço, usando uma válvula de modelo em um ambiente controlado. Os testes mostraram que o vazamento do modelo era comparável ao problema observado no Peregrine. A análise revelou que a válvula PCV2 estava com uma junta roscada afrouxada e o anel de vedação danificado.
O relatório também detalha a sequência de eventos após o lançamento: a missão começou bem, mas problemas surgiram quando o PCV2 e o PCV1 foram ativados. O PCV1 funcionou conforme esperado, mas o PCV2 apresentou sinais de falha durante o desligamento. A telemetria indicou um aumento descontrolado na pressão dos tanques de oxidante e uma diminuição na pressão do tanque de hélio, levando a uma ruptura do tanque oxidante e afetando a orientação da espaçonave.
A equipe tentou ajustar a trajetória do Peregrine para recarregar os painéis solares e solucionar o problema, mas a falha do PCV2 dificultou as manobras. A espaçonave estava com as baterias se esgotando e, mesmo após tentar uma manobra de emergência, o pouso na Lua se tornou inviável.
Apesar da falha, a missão Peregrine proporcionou aprendizados valiosos. A equipe de operações desenvolveu uma compreensão mais profunda do gerenciamento de espaçonaves em condições anômalas e planeja aplicar essas lições no próximo módulo lunar, o Griffin.
Programado para lançamento no final de 2025 a bordo de um foguete Falcon Heavy, da SpaceX, o módulo Griffin contará com melhorias significativas, incluindo tanques maiores e um sistema de alimentação mais robusto. A nova válvula será projetada com um sistema de backup para evitar problemas semelhantes.