O Carrefour deixou a B3, a Bolsa de Valores do Brasil, nesta sexta-feira, 30. A saída da empresa ocorre depois de oito anos de dificuldades operacionais, frustrações de expectativas e desvalorização das ações.
A matriz francesa, controladora de 70% do capital, decidiu adquirir o restante das ações. A decisão, segundo a companhia, consolida a operação com maior agilidade estratégica.
O papel chegou à B3 com preço inicial de R$ 15 e alcançou o ápice de R$ 23,17 em abril de 2022. À época, o setor de atacarejo ganhava em virtude da inflação alta e da queda do poder de compra. Esses fatores levaram consumidores a buscar opções mais acessíveis. No entanto, o cenário favorável não se sustentou ao longo do tempo.
Desempenho das ações do Carrefour
Nos últimos meses, a performance insatisfatória das ações fez o Carrefour Brasil perder destaque entre investidores. Nesta quinta-feira, 29, a ação foi negociada a R$ 8,45. Isso fez a empresa encerrar a participação no mercado com valor de quase R$ 18 bilhões. Trata-se de uma queda de 44% em relação à oferta inicial.
A queda das ações foi influenciada por decisões estratégicas e desafios operacionais. Em 2021, o anúncio da compra do Grupo BIG por R$ 7,5 bilhões gerou expectativas. Entretanto, a integração das operações revelou-se demorada, cara e difícil.
A empresa pretendia concluir o processo em 18 meses. Contudo, encontrou obstáculos na conversão de 129 lojas e no fechamento ou venda de outras 123 unidades.
O impacto das ações foi sentido nos resultados financeiros. No primeiro trimestre de 2023, o Carrefour Brasil registrou prejuízo de R$ 375 milhões, o primeiro desde a oferta pública inicial, e a margem do indicador financeiro Ebitda caiu de 4,4% para 2,1%.
Resultados decepcionantes
O cenário se agravou por causa da inflação dos alimentos e do aumento da concorrência no setor, com o Assaí expandindo rapidamente. A partir de meados de 2022, os resultados do Carrefour Brasil passaram a decepcionar e as ações seguiram em queda.
No fim de 2024, a empresa enfrentou ainda uma crise quando Alexandre Bompard, presidente global do grupo, anunciou a suspensão da compra de proteínas de países do Mercosul. Ele justificou a decisão ao alegar falta de conformidade com normas sanitárias da França.

Em resposta, frigoríficos brasileiros deixaram de fornecer carnes à rede no país. A decisão levou o embaixador da França, Emmanuel Lenain, a intermediar conversas no Ministério da Agricultura para tentar resolver a situação.
Na avaliação do secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, a disputa entre frigoríficos e Carrefour afetou mais a imagem do agronegócio brasileiro do que os negócios em si.
Posteriormente, Bompard recuou e enviou carta ao ministro Carlos Fávaro. Ele reconheceu que a carne brasileira cumpre as normas sanitárias e os padrões exigidos pela França.