O primeiro palco da pianista Carla Ramos foi o belo auditório do centenário Liceu Piauiense, se não me falha a memória foi durante as festas comemorativas do aniversário de fundação do colégio, em 1976, a convite do professor Olímpio Castro, então diretor.
O sucesso foi tão grande que, a partir dai, ainda menina, Carla se tornou presença obrigatória em todos os eventos do colégio. A plateia liceísta delirava de encantamento com suas magistrais apresentações, revelando, apesar da pouca idade, uma intimidade impressionante com os grandes clássicos da música erudita e da MPB.
“O professor Olímpio Castro foi meu grande incentivador. Em todos os eventos realizados no Liceu, ele me convidava fazer o show de abertura. Sou muito grata por isso, pois me fez perder a timidez e me firmar na carreira musical”, diz Carla Ramos.
O pai de Carlinha, o advogado, jornalista e intelectual Raimundo Ramos caprichou na formação erudita dos filhos Garibaldi, Renzo, Carla e Ramsés Ramos, este último jornalista, músico, poeta e intelectual brilhante, que faleceu ainda muito jovem, mas brilhou no jornalismo cultural, na literatura e na música. Ele e o irmão Renzo, ao contrário dos irmãos mais velhos, optaram pelo violão. A ideia do pai era ver os filhos brilhando em grandes concertos nos palcos mais prestigiados do Brasil. Pensando nisso, Dr. Raimundo Ramos contratou a conceituada professora Dourila Carvalho para ministrar aulas de piano para os seus filhos no início dos anos 70.
Lembro que certa vez, na condição de diretor do Grêmio Estudantil Zacarias de Góes, do Liceu Piauiense, fui ao Dr.Raimundo Ramos pedir que liberasse o seu filho Garibaldi para fazer uma apresentação ao piano no auditório do colégio. Ele concordou de imediato com a ideia, mas uma inconfidência minha jogou tudo por terra – disse a ele que Garibaldi iria abrir o show executando ao piano a música Asa Branca, ele levantou-se rapidamente e disse:
“Não, não, ele irá se for para executar músicas clássicas, pois essa é a formação deles. Outro tipo de música, não!” Meio sem jeito, sem ter como argumentar, sai daquele encontro desapontado.
Logo depois fui conversar com Garibaldi e Carlinha. Relatei aos dois o teor da conversa que tive com o Dr. Raimundo Ramos e eles caíram na gargalhada, dizendo em seguida que não me preocupasse, pois o show seria realizado conforme nossa proposta.
Naturalmente os dois deram uma enrolada no mestre dizendo que ia rolar só música Clássica (Mozart, Bethoven, Tchaikovsky, Debussy, etc) e assim conseguiram a anuência do pai. Não precisa dizer que Garibaldi iniciou sua apresentação interpretando Asa Branca e outras músicas do cancioneiro popular, mescladas com músicas clássicas. Arrebentou, foi um sucesso!
Ou seja Carla Ramos e seu mano Garibaldi iniciaram suas carreiras vitoriosas no auditório do centenário Liceu Piauiense. Hoje, são artistas consagrados dentro e fora do Piauí.
Nos anos 80, os irmãos Ramos – Garibaldi, Carla e Ramsés eram presença obrigatória em praticamente todos os eventos musicais realizados na capital piauiense, seja como promotores de espetáculos, coordenadores, músicos ou arranjadores. Foram tempos de muitas realizações na área cultural em Teresina.
Após se destacar como pianista, Carla Ramos fez um curso para aprender acordeon e em pouco tempo estava fazendo sucesso com a sanfona, formando dupla com o forrozeiro Lázaro do Piauí, mas logo voltaria ao piano, sua verdadeira paixão.
DESPREZO AO PIANISTA
Além dos grandes eventos, Carla lembra com saudade do tempo em que o piano era valorizado nos restaurantes, bares e hotéis de Teresina. “Hoje, tá uma decadência total o piano em Teresina e não é por falta de público, mas por falta de visão dos proprietários de estabelecimentos noturnos.”
A cidade tem um público enorme que adora o piano, diz ela, mas estão desprezando o piano e o pianista, o que é um absurdo. “Em Teresina temos dois pianistas internacionais Luizão Paiva e Garibalde Ramos. “Este último já está se preparando para vir para Fortaleza, de modo que a capital piuiense corre o risco de ficar sem pianista”, acentua.
Em sua temporada em Fortaleza, Carlinha sente-se gratificada por avistar na meio do público pessoas que saem de Teresina para prestigiá-la na capital alencarina. “Tenho um público muito grande de piano em Teresina e lamento profundamente o que vem acontecendo em nossa capital”, destaca a pianista.
Segundo ela, ao contrário de Teresina, em Fortaleza quase todos os bares, hotéis, churrascarias tem música ao vivo. “Raro é aquele estabelecimento que não tem um piano, sempre com um excelente público. O pianista é prestigiado pelos cearenses”, enfatiza.
VISITANTES ILUSTRES
Com a projeção de Garibaldi, Carla e Ramsés no cenário musical, a casa dos Ramos passou a ser vista como um templo da música em Teresina, recebendo visita de grandes nomes da música popular brasileira, muitos dos quais fizeram trabalhos com arranjos dos irmãos Ramos. Eram recebidos com festas por Dona Arminda, a matriarca da família que sempre recebeu os amigos dos filhos com aquele sorriso cativante e acolhedor, fossem astro da MPB ou não.
“Muitos cantores, pianistas, escritores visitaram a nossa casa. O primeiro foi Arthur Moreira Lima, que veio várias vezes, e foi produzido pelo Ramsés e por mim, a Eudóxia de Barros, pianista, a Felícia Wang, pianista e professora da Escola Villa-Lobos (RJ), Paulo Porto Alegre, um dos pianistas mais aplaudidos do Brasil, Michel Lewim, um dos mais importantes fotógrafo do país, o jornalista espanhol Pabllo Villarubia que veio lançar um livro aqui e muitos outros artistas, jornalistas e escritores” Acrescenta Carla Ramos.
Todos os irmãos Ramos – Garibalde, Renzo, Carla e Ramsés são músicos, mas o segundo fez o curso de Direito e seguiu carreira jurídica. E o último, um intelectual na verdadeira acepção da palavra, professor, escritor, tradutor, poeta, músico e jornalista optou por seguir nesta última profissão, sendo assessor de imprensa da Federação Nacional de Jornalistas. Faleceu ainda jovem quando acompanhava o presidente da Fenaj, Armando Rolemberg, numa viagem a Moscou, onde sofreu um acidente e veio a óbito.
Carla Ramos deixou de citar meu nome. A pianista brilhou e me fez brilhar por ocasião do lançamento do livro biográfico sobre Núbia Lafayette. Fui recebido pela família, especialmente pela sua genitora D. Arminda, da qual guardo lembranças
Em tempo:
O mais brilhante show no belíssimo Theatro 4 de Setembro com os maiores intérpretes de Teresina, em HINO AO AMOR, em homenagem a saudosa NÚBIA LAFAYETTE.
Acompanhei de perto a trajetória desses artistas talentosos, uma amizade da vida inteira ., reconhecimento merecido, eles conquistaram esse sucesso com muito estudo, muita dedicação 👏👏👏