Em ano de eleições municipais, os eventos festivos e os shows musicais bancados pelo pagador de impostos rendem cifras milionárias aos cantores. É o que mostra um levantamento do portal UOL.
O alto valor investido pelas prefeituras é recompensado por declarações elogiosas aos políticos. “Isso não é um prefeito, é um paizão”, disse Gusttavo Lima a Simão Durando (União Brasil), em Petrolina (PE). Ao realizar um show na cidade, o sertanejo recebeu cachê de R$ 900 mil.
O caso de Gusttavo Lima está longe de ser isolado. “Já ganhou”, entoou Mari Fernandez ao prefeito de Baturité (CE), Herberlh Mota (Podemos). O cachê da artista no Carnaval da cidade foi de R$ 400 mil.
O Ministério Público do Ceará, na figura de Antonio de Souza Júnior, entende que o exemplo de Baturité foi um episódio de “promoção pessoal” e “abuso de poder político”. A ilicitude do caso é de responsabilidade do prefeito, não dos artistas.
Prefeituras apostam alto
Em Santa Rita (PB), o valor do São João de 2024 subiu mais de 60%, em comparação com o de 2023. Foram R$ 13,8 milhões dos cofres públicos neste ano, contra R$ 8,5 milhões no ano passado.
Indagado pelo Ministério Público da Paraíba, a prefeitura afirmou que “a decisão de ampliar os gastos com os festejos juninos está dentro do poder do prefeito”. A Justiça, então, liberou o gasto integral da festa.
No evento, o cantor Bell Marques, cujo cachê supera os R$ 500 mil, conversou com o prefeito Emerson Panta (PP) no meio do show. Depois do papo, o artista concluiu que “a população de Santa Rita merece muita coisa”. “A primeira é ter um prefeito como o Emerson”, disse.
No Carnaval de Maceió, Xand Avião repetiu o coro de Mari Fernandez, o “já ganhou!”, ao prefeito João Henrique Caldas (PL-AL). Com o pré-candidato no palco, o artista, de cachê superior a R$ 450 mil, rasgou elogios pessoais e profissionais ao político.
Para Xand, Caldas é “gato, bonito, desenrolado, trabalhador”. “Esse homem tem que ser presidente, não é prefeito, não”, afirmou o cantor.
Os cachês milionários
Ana Castela, Nattan, Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Zé Neto & Cristiano, por exemplo, com os maiores cachês, receberam juntos R$ 76,8 milhões em dinheiro público municipal por mais de cem shows. Essa verba supera a destinada pela Lei Rouanet a projetos musicais no período (R$ 61,7 milhões).