O poderoso canto de cigarras Brood X (ou ninhada X) foi monitorado por pesquisadores por meio de sensoriamento acústico distribuído (DAS), baseado em cabos de fibra óptica com dispositivos optoeletrônicos acoplados. Esse tipo de tecnologia é usada para detectar vibrações causadas por atividades sísmicas e outros eventos sonoros das mais variadas intensidades.
Conhecidas por serem os insetos mais barulhentos do planeta, as cigarras chamaram a atenção do físico Sarper Ozharar no início de 2021, quando ele percebeu um sinal estranho nos dados do DAS em Princeton, no estado norte-americano de Nova Jersey. Naquele momento, Ozharar estava analisando índices relacionados a terremotos e atividades vulcânicas na região.
Após confirmar que o sinal estranho detectado pelos cabos de fibra óptica vinha de cigarras, o físico resolveu usar a tecnologia para, efetivamente, monitorar os insetos. Um toque especial para esse trabalho tem a ver com a eclosão periódica das Brood X, que acontece a cada 17 anos.
Cigarras “zumbis”
Justamente, em maio de 2021, as cigarras eclodiram, com bilhões de indivíduos “cantando a plenos pulmões” em diversos estados dos EUA. A cada evento como esse, as Brood X se reproduzem e morrem – tudo em questão de 4 ou 6 semanas após a eclosão.
Essas cigarras também são conhecidas como “cigarras zumbis”, pois passam 17 anos enterradas em forma de ninfas, se alimentando de raízes de árvores e seiva. A próxima eclosão das cigarras deverá acontecer em 2038.
Acontece que os pesquisadores têm ficado preocupados com o declínio no número de insetos. Por isso, a pesquisa de monitoramento (publicada no Journal of Insect Science) está sendo muito importante para estabelecer dados de base para espécies que sofrem os efeitos das alterações climáticas. Por exemplo, os cientistas observaram que as cigarras cantam de maneira diferente dependendo da temperatura.
Os cabos de fibra óptica, que estão espalhados por muitos lugares, incluindo áreas rurais, podem ser uma ferramenta valiosa para os entomologistas. Embora não substitua outras técnicas de monitoramento de insetos, como microfones ou análise de DNA ambiental, o DAS pode complementá-las, oferecendo uma forma eficiente e abrangente de coletar dados.
O desafio agora é adaptar o DAS para monitorar espécies de insetos que não sejam tão barulhentas quanto as cigarras. Isso ajudaria os cientistas a entender melhor as populações de insetos e como elas estão mudando.