Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto destacou a necessidade urgente de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva adotar medidas de corte de gastos. A conversa foi ao ar nesta quinta-feira, 14.
Ele ressaltou que essas ações são cruciais para o mercado melhorar a percepção de risco do Brasil. Campos Neto sugere que cortes significativos, “na carne”, tenham implementação a partir de 2025, com o objetivo de evitar uma “bifurcação econômica”.
Conforme Campos Neto, a demora na implementação dessas medidas pode resultar em investimentos desperdiçados e ajustes mais drásticos no futuro. A preocupação do mercado com a trajetória da dívida nacional elevou o prêmio de risco exigido pelos investidores.
“Quanto mais se espera, depois mais você acaba tendo que fazer”, disse o economista. “O choque que precisa ser produzido depois é maior”.
Campos Neto fala cobre medidas fiscais
Campos Neto observou que, embora o Banco Central não tenha intenção de acelerar o aumento dos juros, medidas fiscais eficazes podem impactar positivamente a política monetária.
“Eventualmente, caminhamos para uma bifurcação”, explicou Campos Neto. “Para ter uma saída mais organizada, precisa-se fazer um choque fiscal positivo. Em vez de esperar chegar essa bifurcação, se a gente consegue se antecipar e criar uma surpresa positiva para o mercado em termos de choque fiscal, ajuda.”
Ele disse, ainda, que a inclusão de itens de receita no conjunto de medidas pode comprometer o debate legislativo sobre cortes de gastos — o que colocaria em cheque a redução do prêmio de risco.
“É uma percepção de que, de fato, o governo está fazendo um corte de gastos que seja relevante não só no curto prazo, mas também de forma estrutural para frente”, afirmou.
Resultados de reformas
Campos Neto destacou que algumas reformas estruturais anteriores, como a reforma trabalhista do governo Temer, têm produzido resultados positivos, como a redução do desemprego.
No entanto, ele ressaltou que, mesmo com a inflação brasileira começando a cair depois da pandemia, é necessário continuar buscando a convergência à meta inflacionária.
Por fim, Campos Neto observou que, apesar das incertezas econômicas globais, o Brasil é menos impactado do que outras economias emergentes. Ele acredita que é importante que o país continue a comunicação oficial para transmitir confiança, mesmo em tempos de incerteza.