Um artigo publicado esta semana na revista Scientific Reports descreve a descoberta acidental de embarcações antigas nas estepes da Mongólia, que revelaram hábitos da população local de quase três milênios atrás. O que mais chamou a atenção está relacionado a uma forma de utilização sinistra de dois caldeirões presentes da Idade do Bronze entre os achados.
Ao rasparem resíduos de massa do interior dos caldeirões, que têm aproximadamente 2.750 anos, arqueólogos descobriram que os recipientes já foram usados para coletar o sangue de ruminantes, como ovelhas e cabras, bem como o leite de iaques selvagens.
Não se pode ter certeza sobre o que eles fizeram com o sangue, mas provavelmente foi para fins alimentícios, como a produção de salsicha de sangue, semelhante às técnicas de fabricação de salsicha ainda usadas na Mongólia rural atualmente.
Além de revelar a coleta e o consumo de sangue na região, a descoberta traz as primeiras evidências de iaques selvagens na Mongólia Central até hoje. “Nossa análise ressalta as notáveis propriedades conservantes dos materiais de bronze, servindo como guardiões para a conservação de proteínas e outras moléculas orgânicas”, disse a arqueóloga biomolecular Shevan Wilkin, da Universidade de Basileia, na Suíça, em um comunicado.
Caldeirões de bronze antigos foram encontrados por acaso
Os dois caldeirões foram descobertos casualmente. Dois pastores na província de Khovsgol se depararam com os objetos enquanto trabalhavam em uma cerca para um curral de cavalos.
Com a escavação, eles encontraram não apenas os caldeirões, mas também outros artefatos, que foram encaminhados à Academia Mongol de Ciências, para análise de especialistas.
Wilkin e sua equipe realizaram um estudo exaustivo e detalhado dos dois caldeirões. Para determinar a idade dos objetos, eles usaram datação por radiocarbono e, em seguida, coletaram amostras do interior de ambos para realizar uma análise de proteína.
Segundo Wilkin, isso poderia revelar algo sobre a dieta das pessoas que um dia usaram os caldeirões. Os cientistas descobriram outros caldeirões semelhantes que já foram utilizados como recipientes de cozimento para carne, por exemplo. A descoberta recente, no entanto, é um pouco diferente.
A análise proteômica revelou a presença de proteínas sanguíneas, bem como uma glicoproteína que é expressa no fígado. Essas proteínas foram então classificadas como originárias de ruminantes.
“Salsicha de sangue”: alimento pode ser mais antigo do que se pensa
Proteínas secundárias no caldeirão foram rastreadas ao leite de iaques selvagens. Embora não se saiba exatamente como esses dois líquidos, sangue e leite, foram explorados, o fato de que eles eram usados nos diz muito sobre a maneira como o povo mongol da Idade do Bronze viveu.
“Nossos dados sugerem que os dois caldeirões específicos do norte da Mongólia foram usados para coletar o sangue de animais ruminantes durante o abate e provavelmente foram uma parte importante da produção de alimentos. Se o sangue fosse coletado, conforme nossa sugestão, para a produção de salsicha, estenderia a antiguidade dessa prática pelo menos 2.700 anos no passado”, escrevem os pesquisadores no artigo.
Esses objetos de bronze, concluem os autores, podem representar um recurso inexplorado para a compreensão de civilizações antigas, já que o metal tem propriedades antibacterianas que podem preservar materiais orgânicos por milênios.