Supermercados de São Paulo passaram a adotar grades, lacres e etiquetas antifurto para proteger itens como café, bacalhau, picanha e azeite.
O café, produto que registrou a maior alta de preços no acumulado de 12 meses segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o mais visado.
Repórteres do jornal Folha de S. Paulo visitaram 18 supermercados nas zonas sul, oeste e central da capital paulista de 11 a 14 de abril, onde constataram o uso desses equipamentos em lojas das redes Carrefour, Extra e Pão de Açúcar.
No Mini Extra do Largo do Arouche e no Carrefour Express da Saúde, embalagens de café popular estavam trancados em grades nas prateleiras — marcas mais caras ou cápsulas permaneciam livres. Funcionários das duas lojas disseram que a medida visa a evitar furtos.
Café já está atrás das grades em supermercados de São Paulo.
Eu vivi para ver o dia em que o básico fosse tratado como artigo de luxo.
Parabéns, Lula! pic.twitter.com/J9edV8ts6o
— Lucas Pavanato (@lucaspavanato) April 14, 2025
“Só hoje de manhã, duas pessoas já tentaram furtar os sacos de café”, relatou um funcionário. “É muito constrangedor, porque a gente precisa parar e abordar os clientes.”
A rede Carrefour explicou que a prática é comum para itens de alto valor e que o café se encaixa nessa categoria. “É uma regra do varejo, nós só seguimos o mercado.”
Já o Grupo Pão de Açúcar, dono das redes Pão de Açúcar e Extra, declarou que produtos como picanha, azeite e bebidas alcoólicas são considerados de alto valor agregado e, portanto, exigem proteção adicional. “No caso dos cafés, a companhia informa que a medida adotada não está em conformidade com seus padrões e procedimentos”, disseram à Folha. A grade foi retirada dos produtos assim que a rede tomou conhecimento.

Loja no Grajaú teve 300 unidades de café roubadas
A pesquisa mais recente do Datafolha revela que quase metade dos brasileiros reduziu o consumo de café devido à inflação. Segundo o IBGE, o produto subiu 8,14% entre fevereiro e março, e 77,78% em 12 meses.
Um promotor de merchandising da marca Pilão conta que, em uma loja do Extra no Grajaú, na zona sul da capital paulista, 300 unidades de café foram furtadas. Tal situação levou o supermercado a adotar o uso de lacres.
“Uma época, não estavam nem abastecendo alguns supermercados, porque quanto mais abasteciam, mais roubavam”, afirma. “Pilão é mais fácil de roubar porque não é a vácuo e faz menos volume, é mais fininho, mais fácil de esconder.”
A JDE Peet’s, dona das marcas Pilão, Caboclo, Damasco, Café Pelé e Café do Ponto, disse que decisões sobre exposição dos produtos são exclusivas dos varejistas e que não recebe dados sobre os índices de furto.
O Brasil é o maior exportador de café do mundo.
Meu tweet é só esse mesmo. pic.twitter.com/DvSltfhHS0
— Raul Sena (@oraulsena) February 4, 2025
Outros itens também vêm sendo protegidos. Em duas lojas do Pão de Açúcar na zona sul, bacalhau, picanha, azeite e bebidas estavam com lacres. No Mini Extra da região, esses produtos ficavam em áreas fechadas perto dos caixas. Já em redes como Dia, Hirota Food, Oba e Oxxo, não foi encontrada proteção.
“Tem que lacrar mesmo, porque tem muito furto e está muito caro. Não é porque o mercado é mais elitizado, é em qualquer mercado que está caro”, falou Giovani Ribeiro, 32, que comprava picanha lacrada na unidade da Chácara Klabin. “Café está valendo mais que ouro agora.”
Em uma unidade do Pão de Açúcar em Perdizes, na zona oeste da cidade de São Paulo, o café não estava lacrado, mas uma funcionária mencionou furtos recorrentes. “Comprei três pacotes de café e já foi o valor todo da minha compra”, comentou uma cliente. No caso do azeite, apenas as marcas em promoção, perto dos caixas, estavam expostas sem proteção.