A ciência tenta encontrar buracos negros “perdidos” pelo Universo e parece que, desta vez, encontrou uma espécie de “elo perdido”.
Um estudo publicado na The Astrophysical Journal aponta que um aglomerado de estrelas chamado IRS 13, localizado perto do centro de nossa galáxia, aparenta abrigar um buraco negro em seu meio.
E a forma como tais estrelas se aglomeram e orbitam apontam que o buraco negro em questão é raro, pois ele seria na faixa de massa intermediária, já que esses objetos astronômicos encantadores, ou têm massa similar à de uma estrela, ou são os gigantes supermassivos que vemos bastante.
Estrutura da pesquisa
O trabalho foi realizado por uma equipe de pesquisa do astrofísico Florian Peißker, da Universidade de Colônia (Alemanha), que queria entender como IRS 13 consegue manter sua estrutura mesmo estando tão perto de Sagitário A* (Sgr A*), buraco negro supermassivo com massa de 4,3 milhões de sóis.
Para isso, eles deram uma olhada em como as estrelas e os aglomerados de gás no aglomerado estão se movendo. O esperado por eles é que o movimento fosse um tanto aleatório, mas descobriram ser ordenado.
Existem duas explicações possíveis. A primeira é que a influência de Sgr A*, de alguma maneira, está ajustando as órbitas dos objetos existentes em IRS 13. Porém, a equipe entende que, dentro do aglomerado, deve haver algo que está mantendo-o gravitacionalmente intacto.
Com observações e modelagem, tentaram achar o que seria isso. Com o traçar dos movimentos do aglomerado, descobriram que a possível localização desse objeto.
Ali, observaram raios X e um anel de gás ionizado girando a cerca de 130 km/s. A partir daí, a grupo calculou a massa do objeto no centro do anel, chegando ao resultado de cerca de 30 mil massas solares. Assim, eles concluíram se tratar de um buraco negro de massa intermediária.
Buraco negro perdido e raro: qual sua importância?
- Buracos negros de massa intermediária são raros de se encontrar, o que faz com que o de IRS 13 já seja especial;
- Mas há mais um detalhe que o faz ser muito importante: sua localização. Ele está há apenas 0,1 ano-luz do centro da Via Láctea;
- Além disso, ele pode ser um dos buracos negros que fazem com que Sgr A*, localizado no núcleo da galáxia, siga crescendo e evoluindo;
- Isso é uma pista vital para auxiliar os cientistas no entendimento sobre o crescimento dos buracos negros.
Eles são o fim da vida útil de uma estrela massiva, porém, suas massas são intrigantes. Como explana o Science Alert, na faixa de massa estelar, eles se formam a partir de núcleos colapsados de e estrelas massivas e suas fusões.
Para um buraco negro formado de uma só estrela, o limite superior de massa é de cerca de 80 vezes a massa de nosso Sol.
Já os supermassivos possuem faixa de massa pouco definida, contudo, a comunidade científica aceita, amplamente, que ela seja de milhões a bilhões de vezes a massa solar.
Porém, qualquer um que tenha entre 100 e 100 mil a um milhão de massas solares é considerado de massa intermediária. E, como dito acima, buracos negros com valores de massa nessa faixa são muito difíceis de serem encontrados.
Este fato é intrigante, pois deixa importante espaço (sem trocadilhos) na evolução entre buracos negros pequenos e grandes. Há, também, lacuna nas estatísticas de observação realizadas entre os de massa estelar e supermassivos que não é facilmente explicada. Ou seja, não temos quase nenhuma evidência de crescimento entre eles.
Futuras observações com instrumentos modernos poderão trazer mais informações sobre o objeto. Por agora, ele já representa grande passo rumo ao entendimento da evolução dos buracos negros.
História de IRS 13
IRS 13 foi descoberta há cerca de 25 anos e sempre intrigou os cientistas. Primeiro, eles achavam que se tratava de uma estrela única e massiva. Depois, uma estrela binária, após uma estrela Wolf-Rayet, estrela massiva próxima de virar uma supernova. Por fim, foi identificado como pequeno aglomerado, mas, ainda assim, intrigante.
À Universidade de Colônia, Peißker explicou que “o IRS 13 parece ser um bloco de construção essencial para o crescimento de nosso buraco negro central Sgr A*”.
Este fascinante aglomerado de estrelas continua a surpreender a comunidade científica desde que foi descoberto, há cerca de vinte anos. A princípio, pensava-se que era uma estrela anormalmente pesada. Com os dados de alta resolução, no entanto, agora podemos confirmar a composição do bloco de construção com um buraco negro de massa intermediária no centro.
Florian Peißker, astrofísico da Universidade de Colônia (Alemanha) e líder do estudo, em entrevista à Universidade