Em outubro de 2023, Luckas Viana dos Santos, brasileiro de 31 anos, foi atraído por uma oferta de emprego na Tailândia, onde já trabalhava. Embora a proposta parecesse legítima, ele acabou vítima de tráfico humano na Ásia, um problema crescente na região.
De acordo com uma reportagem do UOL, Luckas, que atuava entre as Filipinas e a Tailândia, foi contatado por supostos recrutadores via chamada de vídeo. Ele recebeu uma proposta de trabalho na área de tecnologia com um salário de US$ 1.500, cerca de R$ 8.000.
A vaga era para Mae Sot, na fronteira entre Tailândia e Mianmar. Ao aceitar os termos, uma viagem de carro foi marcada para 7 de outubro, saindo de Bangcoc. Luckas seria buscado por um representante da empresa, e a viagem duraria cerca de quatro horas.
No caminho, Luckas começou a notar algo errado. Ele viu placas em birmanês, língua de Mianmar, e passou a suspeitar que não estavam mais na Tailândia. Preocupado, comunicou-se com um amigo brasileiro, expressando suas desconfianças e pedindo para acionar a polícia.
Comunicação interrompida e condições sub-humanas
No entanto, o medo de retaliações o fez desistir do pedido. Em uma mensagem, afirmou que estava “bem”, mas teve que entregar seu celular, impossibilitando contatos frequentes com amigos e família.
Cleide Viana, mãe de Luckas, recebeu uma mensagem estranha do filho, que prometeu ligar novamente, mas só o fez dois dias depois. Nesse contato, Luckas revelou estar em risco, vivendo sob condições sub-humanas e trabalhando mais de 15 horas por dia.
“Só quero ir embora. Me ajude, tenho muito medo de morrer. […] Faz dois dias que não tomo banho. Nós trabalhamos mais de 15 horas por dia. Isso não é vida, não sei o que fazer. Eu quero ir embora ou morrer”, diz a sequência de mensagens enviadas por Luckas ao amigo em outubro.
Punido fisicamente, ele pediu que suas fotos fossem compartilhadas, alertando que sua vida corria perigo. A situação se agravou quando uma prima informou que ele fora traficado para esquemas de fraude contra estrangeiros e presenciou mulheres sendo vendidas.
Luckas cessou contato com seus entes queridos há cerca de um mês, com a última atualização indicando que estava machucado devido aos castigos recebidos.
Itamaraty alerta para aumento de casos de tráfico humano
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu um alerta sobre o aumento de casos de brasileiros traficados para trabalhos em condições análogas à escravidão, especialmente em Mianmar.
O Itamaraty acompanha o caso de Luckas e oferece assistência consular à sua família. Dados da ONU apontam que aproximadamente 120 mil pessoas estão em situações similares em Mianmar, muitas traficadas para operações fraudulentas, com um número significativo de vítimas sendo homens com ensino superior.
Desesperada, a mãe de Luckas escreveu uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), solicitando ajuda para encontrar seu filho. Em resposta, o gabinete presidencial informou que o caso foi encaminhado para análise.