O Brasil não vence uma Copa do Mundo há mais de 20 anos, mas fora dos campos de futebol tem ganhado premiações tão importantes quanto. Uma pesquisadora brasileira, recebeu o Prêmio Augustin-Pyramus de Candolle, considerado a ‘Copa do mundo‘ da taxonomia de plantas, por conta do estudo de um grupo de 80 espécies de margaridas “espinhosas”.
Paola de Lima Ferreira, doutora pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), é a primeira brasileira e a quarta mulher a receber o prêmio mais importante do campo. Ele é concedido pela Sociedade de Física e História Natural de Genebra a cada quatro anos e foi entregue a pesquisadora durante cerimônia oficial em março, na Suíça.
Detalhes sobre o estudo das margaridas “espinhosas:
- A pesquisa é um levantamento das margaridas “espinhosas” que encontrou dez gêneros e 80 espécies do grupo.
- Elas são da subfamília Barnadesioideae, parte da grande família Asteraceae ou Compositae, que também inclui os girassóis e a camomila.
- As Barnadesioideae são encontradas apenas na América do Sul.
- Paola coletou os materiais tanto em estados brasileiros como Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, quanto em áreas andinas e do Equador, inclusive próximo do vulcão Cotopaxi.
- A maioria das espécies catalogadas faz parte de três gêneros: Dasyphyllum (27), Chuquiraga (22) e Barnadesia (19).
- A pesquisadora analisou a diversidade do grupo e sua relação com as mudanças na fauna sul-americana e propôs hipóteses sobre a evolução.
- Também explorou a diversidade química da subfamília, identificando componentes úteis em estudos de Quimiotaxonomia, junto com especialistas em química de produtos naturais.
A Quimiotaxonomia é uma disciplina científica que analisa a química como base para a taxonomia – ciência da classificação dos seres vivos. Ela é usada como ferramenta para a compreensão da diversidade biológica.
Biodiversidade e preservação
As coletas de Paula de Lima estão no Herbário do Departamento de Biologia da FFCLRP (Herbário SPFR). No local, os materiais serão utilizados para pesquisas de morfologia e distribuição geográfica. Segundo o orientador do estudo, Milton Groppo, as descobertas de Lima são preciosas:
A diversidade química que Paola encontrou na subfamília Barnadesioideae é uma ferramenta valiosa para a compreensão da diversidade biológica e a inferência de tendências evolutivas
Milton Groppo para o Jornal da USP
Lima explica que o estudo das plantas da subfamília Barnadesioideae pode ser útil para entender também as mudanças climáticas, já que essas plantas são encontradas em lugares mais frios, como a Patagônia e os Páramos dos Andes, tornando-as sensíveis às alterações. Além disso, destaca a importância dos resultados:
Só conseguimos preservar a biodiversidade se compreendermos e descrevermos as suas características
Paola de Lima Ferreira, em entrevista para o Jornal da USP