O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, disse que o avanço do narcotráfico sobre a Amazônia apresenta um risco de o Brasil perder a soberania na região para o crime.
“Brasil corre o risco de perder a soberania da Amazônia não é para outro país, e sim para o crime organizado”, afirmou em entrevista exclusiva à CNN.
De acordo com o ministro, além dos crimes já conhecidos na região — como a extração irregular de madeira, grilagem de terras e queimadas ilegais —, “agora está virando rota de tráfico de drogas, tanto por via aérea quanto por via fluvial”.
A avaliação de Barroso é de que esse cenário leva ao início de “uma contaminação da política pela criminalidade que existe na Amazônia”.
“Esse talvez seja hoje o grande desafio brasileiro: preservar a Amazônia e não deixar a floresta ser derrubada, mas também impedir que ela seja rota para o tráfico”, acrescentou.
O presidente do STF se encontra em Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Antes de falar à CNN, Barroso discursou sobre a questão da Amazônia e o papel da natureza no enfrentamento da mudança climática.
O magistrado citou fatores de risco para a sobrevivência da floresta e das comunidades que lá habitam, como os crimes ambientais de desmatamento, queimadas e mineração ilegal.
Ele também destacou delitos conexos, como assassinato de defensores da floresta, corrupção de agentes públicos para fazerem “vista grossa” quanto aos crimes ou para regularizar propriedades ilicitamente ocupadas e aumento do número de homicídios, associado ao garimpo, à extração ilegal de madeira e à grilagem de terras.
“Uma observação preocupante: os crimes ambientais começam a contaminar o ambiente político e econômico da Amazônia. Madeireiros, garimpeiros e grileiros têm votos ou se candidatam”, disse.
Sobre mineração na região amazônica, o presidente do STF disse que a exploração de reservas é “tema controvertido que exige uma análise sem radicalismos”.
“Uma primeira e importante observação é que, no quadro constitucional e legislativo atual, é terminantemente vedada a exploração mineral em terras indígenas”, afirmou.
O magistrado fez comparações entre as gestões ambientais dos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o ministro, ações de comando e controle para combater atividades ilegais praticadas na Amazônia “haviam sido substancialmente interrompidas no governo passado, inclusive com desmonte das agências destinadas à proteção ambiental e à proteção das comunidades indígenas”.
“Ao longo do primeiro ano do novo governo, a simples mudança de atitude em relação à proteção ambiental e da Amazônia já provocou uma redução de cerca de 50% no desmatamento, comparado com os níveis do ano anterior”, declarou.
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