Desde que os diplomatas argentinos foram expulsos, há quatro meses, a Embaixada da Argentina em Caracas, na Venezuela, está sob a responsabilidade do Brasil. O local abriga seis asilados políticos, associados à líder da coalizão opositora ao regime ditatorial de Nicolás Maduro, María Corina Machado.
No último sábado, agentes do regime de Nicolás Maduro cercaram novamente a embaixada, o que aumentou a tensão. Os asilados denunciaram a interrupção da energia elétrica, ao passo que relatos sugerem que um gerador manteve o fornecimento interno.
Mesmo com o Brasil à frente dos interesses argentinos em Caracas, ambos os países não discutem a situação. Não houve sequer tentativas de contato formal entre Brasília e Buenos Aires, num cenário em que Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei se colocam em lugares antagônicos.
Mudanças na chancelaria argentina
A chancelaria argentina passou por mudanças, com a saída de Diana Mondino e a entrada de Gerardo Werthein. Werthein, ex-embaixador nos EUA, sinalizou a intenção de manter relações comerciais com o Brasil, apesar das recentes tensões diplomáticas.
Em um comunicado, a diplomacia argentina criticou os atos “hostis e de intimidação contra as pessoas asiladas na embaixada” e expressou gratidão ao governo brasileiro por sua representação.
Entretanto, Brasília não se manifestou publicamente sobre o caso. As negociações entre os países ocorrem discretamente, com um funcionário brasileiro como ponto de contato com os asilados. Ele trabalha para garantir necessidades básicas, como alimentação.
Impasses na Venezuela
O Brasil discorda das ações dos asilados, que continuam a atuar na campanha política de María Corina Machado, em suposta violação à Convenção sobre Asilo Diplomático.
Apesar disso, o Brasil ofereceu o envio de uma aeronave para retirar os asilados da Venezuela. O regime de Maduro trabalha para impedir a saída deles do país, em outra possível violação da convenção internacional.
Depois do anúncio de uma nova investigação contra María Corina Machado, acusada de traição à pátria e conspiração, a líder da oposição convocou manifestações para o dia 1º de dezembro.
Embora os protestos em Caracas tenham diminuído em comparação a julho, nas eleições, a repressão permanece intensa. A relação entre Brasil e Venezuela tem se deteriorado, depois de críticas do regime de Maduro a instituições e figuras brasileiras, como o Ministério das Relações Exteriores e Celso Amorim. Ele é assessor do governo brasileiro.