Longe dos holofotes, o governo brasileiro pretende conversar com um grupo reduzido de países — Estados Unidos, Colômbia, Chile e Espanha — sobre os próximos passos para garantir eleições presidenciais minimamente transparentes na Venezuela.
A notícia de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) marcou as eleições para o dia 28 de julho foi recebida com satisfação no Palácio do Planalto e no Itamaraty, que viram um “primeiro passo” importante.
No entanto, há um sentimento de cautela para verificar o que vai ocorrer nas próximas semanas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é fortemente aconselhado a não fazer cobranças públicas a Nicolás Maduro para não “queimar pontes” com o venezuelano, mas o Planalto e o Itamaraty querem fazer um diagnóstico mais preciso da situação.
Nesta quarta-feira (6), Lula deverá tratar do assunto em caráter reservado com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que faz visita oficial ao Brasil.
Contatos de alto nível serão feitos também com os governos de Joe Biden (Estados Unidos), Gustavo Petro (Colômbia) e Gabriel Boric (Chile) para debater a situação venezuelana.
Em visita recente, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse às autoridades brasileiras que vê Lula e Petro como potenciais influências positivas sobre Maduro no processo eleitoral, segundo relatos de fontes diplomáticas à CNN.
No entendimento do governo brasileiro, um dos aspectos positivos no anúncio desta terça-feira (5) foi a divulgação de um calendário eleitoral completo, o que inclui janelas para a postulação de candidaturas (21 a 25 de março), o registro eleitoral (16 de abril) e a campanha (4 a 25 de julho).
Agora, o Brasil torce discretamente por um “gesto” de María Corina Machado, que ganhou as primárias opositoras com mais de 90% dos votos e teve sua inabilitação política por 15 anos confirmada posteriormente.
O governo Lula não deverá dizer isso publicamente, mas acredita que o melhor cenário para a “pacificação” da Venezuela é uma desistência de María Corina e o apoio dela a outro nome da oposição — Manuel Rosales, governador de Zulia (um dos estados mais importantes economicamente do país) e candidato presidencial derrotado em 2006 contra Hugo Chávez, é um dos citados.
Na avaliação de Brasília, isso ajudaria a distensionar o processo eleitoral. Um assessor presidencial afirma que o desafio da oposição venezuelana não é apenas ganhar as eleições, mas tomar posse e governar efetivamente.
O discurso de María Corina, que frequentemente promete punir os chavistas atualmente no poder, é considerado como uma dificuldade a mais no processo.
No radar de Brasília, agora, está a reação dos Estados Unidos e se a Casa Branca estará disposta a manter um dos pilares do Acordo de Barbados, que é o relaxamento das sanções econômicas contra a Venezuela em troca da marcação de eleições.
O consenso, no Planalto e no Itamaraty, é de que ainda há um longo caminho pela frente na Venezuela. Garantir que não haverá repressão aos oposicionistas na campanha e condições de observação independente por parte de entidades internacionais, como a União Europeia e o Centro Carter, é um dos pontos de atenção.
No entanto, a avaliação é de que um compromisso essencial do acordo firmado em outubro — o de eleições presidenciais no segundo semestre de 2024 — foi finalmente cumprido e é possível ver o copo “meio cheio” na Venezuela.
Como afirma reservadamente um auxiliar de Lula, “é preciso acompanhar atentamente os próximos passos, mas não adianta nada partir do pressuposto de que é uma ditadura e será uma eleição roubada”.
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