terça-feira, março 4, 2025
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Braga Netto completa 80 dias preso

Há 80 dias preso em uma sala da Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, o general Walter Braga Netto tem mantido uma rotina de poucas visitas e banhos de sol supervisionados, desde que foi acusado de envolvimento em um suposto plano de golpe no final do governo de Jair Bolsonaro. 

Isolado e com acesso restrito a dispositivos eletrônicos, ele soube da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por meio de sua defesa e da mídia. “Ele ficou indignado com a denúncia, pois é inocente”, disse o advogado de Braga Netto, José Oliveira Lima. “Está inconformado, pois está preso com base em uma mentira.”

A 1ª Divisão do Exército, localizada na Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, é subordinada ao Comando Militar do Leste. É ali onde está Braga Netto | Foto: Divulgação/Exército
A 1ª Divisão do Exército, localizada na Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, é subordinada ao Comando Militar do Leste. É ali onde está Braga Netto | Foto: Divulgação/Exército

Braga Netto, o general de duas estrelas Mário Fernandes, três tenentes-coronéis e um policial federal são os únicos dos 34 denunciados no inquérito que permanecem presos preventivamente por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

General de quatro estrelas, Braga Netto é o de maior patente. Por causa disso, é o único a estar detido em uma sala de Estado Maior da 1ª Divisão do Exército, no Rio, que faz parte do Comando Militar do Leste, comandado por ele até 2019. 

O local, um cômodo adaptado no prédio principal da Vila Militar, está equipado com TV, banheiro exclusivo, geladeira e ar-condicionado, conforme relatos de pessoas próximas ao militar. Aqueles que o visitam devem deixar seus celulares em um escaninho fora da sala.

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Natural de Belo Horizonte, Walter Souza Braga Netto ingressou no Exército aos 17 anos e construiui uma longa carreira Forças Armadas | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A chegada do general, que já ocupou os cargos de Ministro da Defesa, da Casa Civil e interventor do Rio de Janeiro, resultou em um reforço de segurança no local. Braga Netto é vigiado 24 horas por dia e precisa de escolta policial do Exército durante os banhos de sol, aos quais tem direito diariamente.

As visitas são limitadas a familiares e advogados, e qualquer exceção precisa ser autorizada por Moraes. Uma das exceções foi a visita do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, em 7 de fevereiro, onze dias antes de a PGR formalizar a denúncia. 

No entanto, essa visita não foi motivada por uma questão de prestígio, mas sim por um procedimento rotineiro, como o próprio Tomás Paiva esclareceu a interlocutores. O encontro durou cerca de 15 minutos, foi protocolar e com poucas palavras. 

O comandante apenas perguntou se o general estava bem de saúde e se tinha acesso à defesa e à família. Não houve relato de que Braga Netto tenha apresentado queixas.

A relação entre os dois generais, que não era próxima durante o governo Bolsonaro e deteriorou-se com o avanço da investigação. Mensagens apreendidas pela Polícia Federal indicam que Braga Netto orientou críticas nas redes sociais a Tomás Paiva. 

De acordo com os investigadores, a intenção era constranger os militares que resistiam em aderir à trama. Ele teria enviado uma mensagem a um capitão expulso do Exército, dizendo que ele “nunca valeu nada” e “parece até que é PT desde pequenininho”.

Em nota, o Exército disse que os militares presos estão isolados e têm acesso a “assistência religiosa, médica e psicológica”, além de cumprir rigorosamente as condições impostas pelas autoridades competentes. A nota destacou também que, por questões de segurança, não forneceria informações sobre os horários, rotinas ou quantidade de militares responsáveis pela segurança dos presos.

As visitas aos militares presos no inquérito foram restringidas após a revelação de que o tenente-coronel Mauro Cid recebeu 73 visitas em 19 dias no primeiro semestre de 2023, sendo 41 delas de militares. Moraes considerou esse número “elevadíssimo”, o que indicava “falta de razoabilidade”.

As visitas aos militares presos no inquérito passaram a ser mais restritas depois da revelação de que o tenente-coronel Mauro Cid recebeu 73 visitas em 19 dias, no primeiro semestre de 2023 — 41 delas de militares. Na época, Moraes considerou o número “elevadíssimo”, o que indicava “falta de razoabilidade”.

Braga Netto, preso em operação da PF, foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Braga Netto, preso em operação da PF, foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Além de Braga Netto, outro general está preso preventivamente

A mesma limitação de visitas foi aplicada a Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência no governo Bolsonaro. Depois de um período na sala de Estado Maior da Vila Militar, ele foi transferido para o Comando Militar do Planalto, em Brasília, para um cômodo similar, também equipado com ar-condicionado, TV e geladeira. 

A transferência foi solicitada para que ele ficasse mais próximo da família, que o visita quase todos os dias. Além disso, ele tem se dedicado mais à religião. De acordo com pessoas próximas, o general está triste e se sentindo injustiçado, mas “bem resiliente”.

Na última semana, a defesa de Fernandes solicitou ao STF a permissão para levar um computador à sua cela especial. O pedido foi motivado pelo fato de ele ter sido notificado da denúncia da PGR por meio de um pendrive, mas não ter como abrir os arquivos. Moraes não atendeu à solicitação.

“Acreditamos, com o devido respeito, que a prisão é desnecessária, pois, entre a busca e apreensão no início de 2024 e a decretação da prisão em novembro, não houve qualquer conduta perigosa ou descumprimento das medidas cautelares impostas ao meu cliente”, disse o advogado Marcus Vinícius Figueiredo, que também defende Braga Netto.

Tanto os advogados de Braga Netto quanto os de Fernandes pediram a revogação da prisão preventiva no final do ano passado. No entanto, os pedidos foram negados por Moraes, em 24 e 26 de dezembro, respectivamente. Para o ministro do STF, a prisão preventiva é necessária para “manter a ordem pública” e garantir o andamento das investigações.



Via Revista Oeste

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