O ex-presidente Jair Bolsonaro publicou neste sábado, 31, em sua conta na rede social X, um vídeo gravado durante missão oficial de parlamentares da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos, em 2024.
A publicação ocorre em meio a críticas da esquerda à licença do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no mesmo país, onde se dedica a denunciar perseguição política. Ao resgatar o vídeo, Bolsonaro buscou expor o que considera uma incoerência por parte dos opositores.
A gravação mostra os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (PSD-MA), e os deputados Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) diante do Capitólio, sede do Congresso dos EUA.
No vídeo, Jandira afirma: “Essa nossa luta aqui em Washington nesse momento é para criar um movimento internacional para que a gente elimine essa influência tão perniciosa da extrema-direita de Trump com a extrema-direita de Bolsonaro”. Ela descreve a agenda como “uma ação conjunta do Congresso brasileiro e o Congresso americano em defesa da democracia em todo o mundo”.
A missão, organizada pelo Instituto Vladimir Herzog com apoio do Washington Brazil Office, incluiu reuniões com congressistas norte-americanos, como Bernie Sanders e Jamie Raskin, além de encontros com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Organização dos Estados Americanos, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em discurso no Senado, Costa afirmou que o grupo buscou alertar para o avanço global do “neofascismo” e criticou a atuação da oposição brasileira nos EUA. “É uma vergonha um grupo de parlamentares e figuras públicas do Brasil que sai mundo afora vendendo a ideia de que vivemos numa ditadura”, disse.
Ele também classificou a sessão na subcomissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados norte-americana como “besteirol” e criticou os depoimentos dos jornalista Michael Shellenberger e Paulo Figueiredo e do deputado republicano Chris Smith.
Audiência nos EUA reuniu oposição para denunciar STF e Alexandre de Moraes
A agenda da esquerda foi uma reação à visita anterior de parlamentares da oposição brasileira aos EUA. No dia 7 de maio daquele ano, uma comitiva formada por nove congressistas e o ex-deputado Deltan Dallagnol participou, como convidada, de uma audiência no Congresso norte-americano intitulada “Brasil: a crise da democracia, liberdade, e do Estado de Direito?”.
O grupo incluiu Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO), Filipe Barros (PL-PR), entre outros. A audiência teve como foco supostos abusos do Judiciário brasileiro, com críticas às decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A tensão se intensificou depois de Eduardo Bolsonaro anunciar, em vídeo publicado em 18 de março deste ano, que se afastaria temporariamente do mandato de deputado federal e permaneceria nos EUA. Segundo ele, a decisão se dá para denunciar violações de direitos humanos e buscar sanções contra autoridades brasileiras.

“Abro mão de cabeça erguida de tudo que tenho”, afirmou. “Vou seguir firme na missão de trazer justiça para todos os tiranos. Estou falando de vocês, os psicopatas que prenderam mães de família, idosas, trabalhadores e todo tipo de pessoa comum e inocente.”
Eduardo declarou que sofre perseguição por parte de Moraes, a quem acusou de fazer “chantagem política” com o objetivo de prendê-lo”. Ainda no vídeo, o parlamentar afirmou que não aceitou o mandato para viver “no conforto nem na comodidade” e que sua nova missão seria “buscar as justas punições que Moraes e a Polícia Federal merecem”.
Em sua publicação, Bolsonaro ironizou a viagem da esquerda e a classificou como mais um exemplo de parlamentares de oposição em viagem ao exterior para “denunciar o que chamam de perseguição política”.
Ele também criticou a mudança de discurso de seus adversários. “Em menos de dois meses, os mesmos mudam o entendimento escrito por eles mesmos […] para o papo imbecil/desonesto de abolição do Estado Democrático de Direito”, disse. A postagem do ex-presidente já acumulava mais de 110 mil visualizações até a manhã deste domingo, 1º.
Bolsonaro compartilha vídeo em que Boulos acusa STF de rasgar a Constituição
Na última quarta-feira, 28, Bolsonaro compartilhou um vídeo em que o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) acusa o STF de “rasgar a Constituição”. A declaração foi feita durante um evento em Lisboa, Portugal, organizado por partidos de esquerda. À época que o vídeo foi gravado, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda estava preso.
Na ocasião, Boulos afirmou que parte do Judiciário brasileiro teria “virado as costas para a democracia” ao “chancelar a ruptura constitucional”. O líder do movimento sem-teto também acusou o STF de querer “tomar na sua mão os rumos da sociedade brasileira e os rumos da política”.
O ato em Lisboa reuniu representantes do Bloco de Esquerda de Portugal, do Partido Socialista (PS) e do Podemos da Espanha, além de figuras como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e a jornalista Pilar del Río. Também participaram o ex-ministro Tarso Genro, membros da Universidade de Coimbra, e representantes da Frente Ampla do Chile e do movimento França Insubmissa.
Boulos declarou que o Brasil vive “a maior crise democrática desde o fim da ditadura militar”, com aumento da violência política e, segundo ele, avanço do Judiciário sobre as decisões políticas do país.