O biohacking é uma prática contemporânea que consiste em combinar tecnologia e biologia para desenvolver avanços científicos e novas formas de estar no mundo.
A partir da combinação de elementos naturais com os não naturais seria possível, segundo essa teoria, criar, por exemplo, iluminação natural para cidades inteiras a partir de organismos vivos.
Quando a tecnologia é aplicada diretamente no corpo humano, espera-se um aumento das capacidades naturais ou ainda a recuperação de alguma função.
Muitos projetos de biohacking que existem atualmente vem sendo desenvolvidos por entusiastas, os chamados biohackers, e não por cientistas profissionais.
Isso é o que diz Liza Felicori Vilela, professora associada do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em um vídeo publicado no Youtube.
Hackear a biologia
A palavra hacker vem do substantivo inglês “hack”, que, em português, significa algo como “gambiarra”, ou seja, uma solução improvisada e criativa para resolver um problema.
O termo teria começado a ser usado na década de 1950 para designar uma alteração inteligente em alguma máquina.
Nas décadas seguintes, hacker se tornou algo comum no campo da informática para denominar programadores, profissionais ou amadores que conseguiam modificar (ou hackear) sistemas, aperfeiçoando-os.
Na década de 1990, porém, o termo adquiriu conotação negativa.
A palavra biohacker remete à origem da palavra para descrever pessoas que buscam hackear a biologia humana a partir do uso da tecnologia. Ou seja, é quem recria interações entre algo vivo e tecnologia.
Promessas do biohacking
A ideia de hackear a biologia humana para potencializá-la a partir da tecnologia é, para muitos estudiosos, uma promessa de ganhos sobre-humanos.
Já se fala, por exemplo, sobre a possibilidade de aumentar a capacidade auditiva de um ser humano ou permitir o controle de objetos digitais com a mente a partir de implantes de microchips.
O movimento biohacking não prevê somente aumento da capacidade humana, mas também soluções biotecnológicas para problemas de saúde e provocados por acidentes.
A manipulação de genes, implantes de probióticos e próteses e outros dispositivos do tipo no corpo humano seriam algumas das formas possíveis de criar essas soluções.
É o caso, por exemplo, do ex-tetraplégico Keith Thomas, que recuperou os movimentos do corpo nos Estados Unidos após passar por uma cirurgia para implantar chips no cérebro.
Ciborgue do século 21
A bióloga e filósofa Donna Haraway já falava em 1985 sobre o uso de tecnologias acopladas ao corpo humano para transformá-lo e ampliar suas capacidades.
O texto “Manifesto Ciborgue” que ela escreveu é usado atualmente por vários pesquisadores quando querem falar sobre a capacidade humana de mudar o próprio corpo.
O texto fala de tecnologia como tudo o que foi desenvolvido e aprimorado pelo ser humano.
Assim, roupas, acessórios e maquiagem (que ajudam a moldar o formato e aparência do corpo), próteses (que recompõem e atualizam estruturas naturais), e até smartphones, que funcionam como extensão da realidade individual, fazem as pessoas um pouco “ciborgues” (parte humano e parte tecnologia), diz a bióloga.
“A ficção científica contemporânea está cheia de ciborgues — criaturas que são simultaneamente animal e máquina, que habitam mundos que são, de forma ambígua, tanto naturais quanto fabricados”, escreve em seu manifesto.
Apesar de ser um fenômeno considerado recente, o biohacking apresenta visão semelhante ao que Haraway escreveu: a possibilidade de criar “ciborgues”, seres mais capazes e mais poderosos que o estritamente humano.
A novidade do biohacking, no entanto, é tentar fazer essas criações exclusivamente com as tecnologias científicas mais inovadoras do século 21.
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