Em uma explosiva entrevista coletiva, o técnico do Uruguai, Marcelo Bielsa, criticou fortemente a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e a organização da Copa América nos Estados Unidos.
A entrevista coletiva ocorreu nesta sexta-feira (12), no Bank Of America Stadium, em Charlotte, onde neste sábado (13), às 21h (de Brasília), sua seleção enfrenta o Canadá na disputa pelo terceiro lugar.
O argentino Bielsa defendeu seus jogadores, que brigaram com torcedores colombianos na arquibancada do Bank Of America Stadium, na quarta-feira (10), após perder de 1 a 0 para a Colômbia pela semifinal da competição.
O atacante Darwin Núñez chegou a trocar socos com outros homens. O Uruguai alega que familiares dos membros da delegação, com mulheres, crianças e idosos, estavam sendo intimidados por torcedores rivais e não havia seguranças suficientes para evitar isso.
“Estamos nos Estados Unidos, entre aspas o país da segurança. Se os jogadores não fizessem isso teriam sido criticados. Como você pode não defender sua mãe, sua irmã ou um bebê?”, disse Bielsa.
Ele detonou o fato de não haver segurança adequada, mas também acusou a Conmebol de adotar uma “lei da mordaça” para que jogadores e treinadores não criticassem a organização da Copa América. Bielsa citou o técnico da Argentina, Lionel Scaloni, que segundo ele não pôde mais expor problemas ao estado do gramado dos estádios e à dimensão menor dos campos, de 100 x 64m, e não 105 x 68m como a Fifa adora habitualmente em torneio internacionais. E que os profissionais são ameaçados de sanções para ficarem quietos.
“Cansei disso. Acumulam-se injustiças. Isso é uma praga de mentirosos. Aqui te dão um campo terminado há três dia. Os campos de treinamento foram um desastre”, disparou o treinador de 68 anos.
Ele disse estar com medo das suspensões que seus jogadores podem receber pela confusão de quarta-feira. Foram abertas sanções administrativas contra 11 jogadores.
Se punidos teriam que cumprir a punição nos jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, que ainda terá seis rodadas em 2024, entre setembro e novembro.
“Tenho muito medo da vingança esportiva. Eles sempre ameaçam você no esporte. Aqui a mensagem é que não podemos defender sua família e não podemos permitir que fujam. De que sanção você está falando? O que temos que ver é quando eles vão desculpar-se”, continuou o treinador.
“A sanção não tem de ser para os jogadores de futebol, mas sim para aqueles que os forçaram a agir desta forma. Isto é uma caça às bruxas. É uma pena”, continuou.
Bielsa reclamou também da participação do país-sede da Copa América, os Estados Unidos, na organização.
Várias seleções reclamaram do tamanho dos campo, dos gramados, dos centros de treinamento, mas Bielsa também lamentou a falha de segurança durante a confusão de quarta-feira.
“Os Estados Unidos criaram o Fifagate com o FBI [polícia federal dos EUA] quando sentiu que seus interesses estavam sendo atacados”, disse Bielsa.
O chamado Fifagate aconteceu em 2015, quando vários dirigentes esportivos das Américas foram presos acusados de receberem propina para vender direitos comerciais de de transmissão de competições pelo continente. Entre os presos, e depois condenado, estava o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin. A investigação ocorreu nos EUA porque o dinheiro desviado passava por contas abertas no país.
Entenda o caso
Após o apito final da semifinal entre Colômbia e Uruguai, na quarta-feira (10), os jogadores colombianos se juntaram no campo para comemorar a classificação.
Os uruguaios foram surpreendidos com uma confusão que acontecia nas arquibancadas e, prontamente, eles se dirigiram ao local para intervir na pancadaria. O momento foi registrado e viralizou nas redes sociais.
Nas imagens divulgadas é possível ver o atacante uruguaio Darwin Núñez no meio da torcida colombiana. O jogador do Liverpool, da Inglaterra, chegou a proferir um soco, além de ser alvo de agressões.
A confusão foi apartada com a chegada da polícia e , segundo a emissora DirecTV, terminou com a prisão de diversos torcedores colombianos.
Os jogadores uruguaios alegaram que os colombianos intimidaram seus familiares, que estavam no setor onde Núñez brigou. Havia esposas de atletas, filhos pequenos e pais idosos. Na transmissão oficial é possível ver Núñez com seu filho no colo, após se afastar da arquibancada.
“Vou dizer isso agora senão eles vão me interromper mais tarde. É tudo um desastre, uma parte da torcida atacando nossas famílias, com filhos recém-nascidos. Espero que os organizadores tomem nota porque isso acontece o tempo todo, eles bebem álcool e se comportam assim”, relatou o zagueiro celeste José Giménez, do Atlético de Madrid-ESP, à DirecTV.