quarta-feira, novembro 27, 2024
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Base do PCC no Tatuapé tem festas de luxo

Um apartamento de um prédio localizado na Rua Americana, no Tatuapé, zona leste da capital paulista, tornou-se galpão de festas de luxo. Ali se instalaram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), responsáveis pela organização das baladas. De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira, 24, as festas eram regadas a vinhos, champagnes e uísques caros.

Um dos relatos divulgados na reportagem mostra como um entregador de serviços de aplicativos se impressionou ao entregar ao dono do apartamento diversas caixas de vinho Pêra Manca, champanhe Dom Pérignon e Louis Roederer Cristal e uísque blue label, além de duas garrafas de cognac Louis XIII. A encomenda, que depois foi apreendida pela polícia, tinha um valor estimado em R$ 300 mil.

O dono do apartamento é um empresário, cujo nome está sob sigilo. Ele teria enriquecido com postos de gasolina suspeitos de lavar dinheiro do traficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho. Este último é ligado à cúpula do PCC e foi preso em 2020 pela DEA, a agência antidrogas dos EUA, em Moçambique. 

“As meninas estão chegando”, disse o dono do imóvel a um amigo, enquanto dava a gorjeta de R$ 200 e um pacote de notas de R$ 100 ao entregador. 

A bebida foi paga em dinheiro vivo, que cheirava a naftalina. No dia seguinte, a Polícia Federal (PF) bateu à porta do empresário. Era a Operação Rei do Crime. No imóvel, os federais encontraram caixas de bebida ainda fechadas.

Fuminho foi preso em Maputo, Moçambique, em abril de 2020 | Foto: Divulgação/PF
Fuminho foi preso em Maputo, Moçambique, em abril de 2020 | Foto: Divulgação/PF

Fuminho negou ligação com o PCC em depoimento à polícia. O prédio na Rua Americana, no bairro Tatuapé, foi alvo de outras três operações policiais.

A última, em 9 de julho, envolveu a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MPSP). Os agentes investigaram quatro unidades do prédio. 

Quatro dos 52 alvos da Operação Fim da Linha moravam no mesmo edifício, ligados à lavagem de dinheiro do crime organizado na empresa de ônibus UPBus, que teria sido capturada pelo PCC. 

Investigações sobre o apartamento ligado ao PCC na Rua Americana

Pouco depois, o mesmo apartamento apareceu em uma investigação do Gaeco. O objetivo era encontrar Sílvio Luiz Ferreira, o Cebola, da Sintonia Final das Ruas do PCC. Foragido há dez anos, Cebola teve sua prisão decretada por tráfico de drogas. 

“Ostentando a situação de foragido, que perdura por anos, Silvio utiliza várias manobras para a ocultação de sua verdadeira identidade, o que contribui para mantê-lo distante do cárcere, mas não impede o desfrute da liberdade em elevado padrão patrimonial”, afirma a investigação do MPSP.

Cebola vivia com sua companheira e filho em dois endereços alvo de mandados de busca em 14 de setembro de 2020. No local, ele se apresentava como Rodrigo Augusto de Lima.

Cebola se apresentava como Rodrigo Augusto de Lima | Foto: Reprodução/Estadão
Cebola se apresentava como Rodrigo Augusto de Lima | Foto: Reprodução/Estadão

“Os imóveis são repassados para parentes, amigos e integrantes do segundo escalão da facção”, disse o promotor Fábio Bechara.

A investigação ainda revelou uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) falsa tirada no Distrito Federal (DF) e ligações com a UPBus, da qual a mulher de Cebola é acionista.

Preso em 2012 pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) com meia tonelada de maconha na sede da UPBus, Cebola viu o apartamento da Rua Americana ser revistado duas vezes em 2020, por ordens da Justiça Federal e da 1ª Vara de Crimes Tributários. 

Outros 40 endereços em bairros nobres, como Tatuapé, Jardim Anália Franco e Vila Regente Feijó, foram listados em investigações da PF, da Polícia Civil, da Receita Federal e do Gaeco, totalizando um patrimônio de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões. 

A ligação de Admar de Carvalho Martins com o caso

Um prédio na Rua Marechal Barbacena, com apartamento ligado ao empresário Admar de Carvalho Martins, é exemplo de endereços que se tornaram algo de investigação. Admar, maior acionista individual da UPBus, negou elo com o PCC.

Admar de Carvalho Martins é o maior acionista individual da UPBus | Foto: Reprodução/Estadão
Admar de Carvalho Martins é o maior acionista individual da UPBus | Foto: Reprodução/Estadão

Ele declarou que recebeu, entre 2015 e 2022, rendimentos isentos decorrentes do suposto lucro da UPBus Qualidade em Transporte S.A. de R$ 14,8 milhões. Entretanto, no mesmo período, a empresa teve um prejuízo acumulado de R$ 5 milhões.

Ele usou metade de seu patrimônio declarado (R$ 20 milhões) em 2021 para criar a empresa SPE 7, que vendeu um apartamento relacionado à companheira do traficante Ygor Daniel Zago, o Hulk, preso em 2021 com uma Ferrari. 

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Além disso, o Deic flagrou apartamentos na Rua Eunice Weaver, também no Tatuapé, com donos ocultos. Um comerciante relatou levar bebidas para o Guarujá a pedido de um corretor de imóveis da região. 

A vida de luxo proporcionada pelo tráfico transatlântico de drogas trouxe festas e carros de luxo para a zona leste, o que incomoda moradores que conhecem os novos vizinhos. 

Execuções de líderes do tráfico no Tatuapé

Desde 2018, o Tatuapé se tornou palco de execuções de líderes do tráfico em São Paulo, depois dos assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, em Fortaleza. 

O primeiro a ser executado foi Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, em fevereiro de 2018. Em 23 de julho, Cláudio Roberto Ferreira, o Galo Cego, foi morto com cerca de 70 tiros de fuzil no Tatuapé. 

As execuções continuaram na região, incluindo a de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e a de seu motorista, Antonio Corona Neto, em dezembro de 2021. O pistoleiro responsável, Noé Alves Schaum, foi decapitado em 2022.

Mortes recentes de integrantes do PCC

Outro traficante, Cláudio Marcos de Almeida, o Django, foi encontrado enforcado. Rafael Maeda Pires, o Japonês do PCC, foi encontrado morto em 4 de maio de 2023. Este último era descrito como chefe do tráfico na comunidade Caixa D’Água e responsável pelo tribunal do crime da facção na zona leste. Ninguém foi condenado por esses crimes até agora. 

O criminalista Anderson Minichillo, defensor de Cebola, afirmou ao Estadão que seu cliente nunca teve imóvel no Tatuapé nem morou na região. Também negou que a UPBus tenha usado dinheiro do tráfico. 

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Via Revista Oeste

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