domingo, junho 1, 2025
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Aumento do IOF gera inflação, diz ex-diretor do Banco Central

O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) promovido recentemente pelo governo federal foi recebido por parte do mercado como uma medida com potencial efeito equivalente ao de uma elevação da taxa Selic.

A justificativa seria que, ao encarecer o crédito, o IOF contribuiria para desacelerar a economia e conter a inflação, o que pouparia o Banco Central (BC) de uma alta adicional nos juros básicos. Por este argumento, a alta eleva o custo efetivo dos empréstimos, já que o tributo incide sobre operações financeiras.

O ex-diretor de Política Econômica do BC (2019-2021) Fábio Kanczuk, porém, discorda dessa tese que relaciona a alta do crédito à Selic.

Em vídeo, ele destacou que o efeito do IOF sobre o custo do crédito (que logicamente aumentará) é limitado e não se compara ao impacto sistêmico de um aumento da taxa básica de juros.

“Crédito é uma coisa que é um itenzinho da política monetária”, ressalta ele. “A Selic vai pegar no custo de oportunidade de quem nem mais toma crédito, afeta o working capital das empresas [capital de giro] e sendo crédito nas empresas isso pode afetar a oferta, e não demanda; é bem mais complicado.”

Zanczuk, que é diretor de macroeconomia da gestora ASA Investments, citou uma estimativa da qual discorda, de que o aumento do IOF equivale a uma alta de cerca de 30 pontos-base (Bps). Isto equivale a 0,30% a mais nos juros do crédito.

Para Kanczuk, no entanto, esse impacto não se traduz em política monetária de fato. Isto porque a Selic age por múltiplos canais, conforme ele ressaltou.

Para reforçar seu argumento, Kanczuk, também ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2016-2018), recorre a um estudo de sua própria autoria, publicado em 2013. A análise modela justamente a equivalência entre este aumento no custo do crédito e o efeito da Selic.

“30 Bps na verdade são 6 Bps a mais de Selic só. 6 Bps é pouquinho, né? Fala sério.”

Estes 6 Bps equivalem à alta de 0,06%. Com base nesse cálculo, ele considera que o impacto do IOF é tímido demais para justificar qualquer mudança na condução da política monetária. A Selic continua sendo, conforme ele afirma, o instrumento central do BC para controlar a inflação.

Além dos aspectos técnicos, a decisão de elevar o IOF levantou preocupações quanto à sinalização transmitida pela equipe econômica, ressaltou ele. Representantes do Tesouro e da Receita sugeriram, segundo Kanczuk, que a medida também teria como objetivo o controle de capitais, no caso um limite do fluxo.

A partir desta sugestão, o mercado passou a questionar a eficiência do aumento do IOF, na visão do economista.

“Então você mexeu nas expectativas das pessoas sobre como pensa a equipe econômica”, destacou o ex-diretor do BC. “Você aumentou o prêmio de risco, isso é igual a um choque de oferta negativo, que é o efeito oposto; isso gera inflação em vez de cortar a inflação.”

Na prática, essa postura gera o efeito contrário ao desejado, também em relação a investidores.

“Desconfiança grande para nossa cabeça, esse IOF fez o efeito contrário, de gerar inflação em vez de cortar a inflação.”

Mesmo com as críticas, a avaliação de Kanczuk é que o ciclo de alta da Selic já se encerrou e que não há espaço para novas elevações. Mas não por causa do aumento do IOF, e sim por outros fatores macroeconômicos e conjunturais.

Via Revista Oeste

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