A Polícia Federal fala de um possível conluio entre investigados por suposta instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e a atual direção do órgão.
Em relatório apresentado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os investigadores afirmam que a atual gestão da Abin teria montado, com os investigados, um acordo para formação de uma estratégia conjunta e para “cuidar da parte interna”.
Segundo a PF, o movimento causou prejuízo à investigação em curso. Os policiais citam que “as ações realizadas pela alta gestão atual […] se mostram prejudiciais à investigação posto que transparecem aos investigados realidade distinta dos fatos”.
A PF cita trechos de depoimentos em que a diretoria-geral teria dito aos investigados que “há apoio lá de cima”.
De acordo com o relatório, no dia 28 de março de 2023, o atual diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, teria realizado uma reunião com os investigados, dizendo que o procedimento, sob o comando de Moraes, teria “fundo político e iria passar”.
Ainda de acordo com a investigação, a fala aconteceu na presença do delegado Luiz Fernando Corrêa, que um mês depois viria a ser nomeado diretor-geral dois meses depois, no dia 30 de maio.
“Não se identificou, por oportuno, normativo que autorizasse cidadãos alheios aos quadros da ABIN – Agência Brasileira de Inteligência – receberem, dentre outras, informações sigilosas relacionadas às diligências em andamento”, afirmou a PF.
Na mesma reunião, o então secretário de planejamento, número 3 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Maurício Fortunato Pinto, apresentou a “estratégia” da direção-geral do órgão para “tentar acalmar a turma”. Fortunato Pinto foi afastado do cargo, por determinação de Moraes, em outubro de 2023 —quando a PF realizou a primeira operação para apurar o esquema da “Abin paralela”.
A investigação também revela que, no dia seguinte à reunião em que foi apresentada a “estratégia” para “acalmar a turma”, Moretti, que à época ocupava o posto de diretor-geral da Abin, pediu ao Supremo “dados cadastrais dos números monitorados”.
“A percepção equivocada da gravidade dos fatos foi devidamente impregnada pela direção atual da ABIN nos investigados não alterou o cenário vivido pelos investigados ao tempo da gestão do delegado Alexandre Ramagem em nítida relação de continuidade”, diz o relatório da PF.
No documento, a Polícia Federal destacou a participação de diretores da Abin em reuniões da Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI), comissão do Congresso Nacional responsável por fiscalizar o órgão. Nessas reuniões, a direção da Abin declarou que a investigação se tratava de “politização e disputas mesquinhas de poder com a Inteligência do Estado”.
Os investigadores também criticaram o fato de que o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Correa, tratou o FirstMile como “brinquedo de criança”.
“Neste sentido, também, não se pode qualificar a solução tecnológica FIRST MILE, adquirida aproximadamente por R$ 5.000.000,00 (cinco milhões) de reais, como mero “brinquedo de criança” ainda mais quando a ferramenta foi utilizada para monitorar sujeitos sem qualquer pertinência com as atribuições institucionais da ABIN”, afirma a PF.
A CNN procurou a Abin para comentar a operação da PF, mas até o fechamento dessa reportagem não teve retorno.
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