O paratleta que se tornou astronauta, John McFall, 43, pode em breve ser a primeira pessoa com deficiência a ir ao espaço — e ele atribui às Paralimpíadas o mérito de ajudar a desafiar as percepções sobre o que as pessoas com deficiência podem alcançar.
Após um acidente de motocicleta que resultou na amputação de sua perna direita aos 19 anos, McFall aprendeu a correr novamente e se tornou um atleta profissional de atletismo.
O velocista da equipe do Reino Unido (Team GB) ganhou a medalha de bronze nos 100 metros T42 nas Paralimpíadas de Pequim em 2008 e, mais tarde, começou a trabalhar como cirurgião de trauma e ortopedia.
McFall se tornou o primeiro “parastronauta” do mundo em 2022, quando a Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou uma nova turma de astronautas em treinamento. Ele participou do estudo de viabilidade — o “Fly!” da ESA — que avaliou os desafios que uma pessoa com deficiência poderia enfrentar em um voo espacial.
O estudo, disse ele à revista científica Nature na semana passada, “até agora demonstrou que é tecnicamente viável para alguém com uma deficiência física como a minha voar para o espaço e viver e trabalhar como um membro totalmente integrado da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS) em uma missão de longa duração.”
Com parte do estudo prevista para ser concluída no final do ano, McFall espera que a ESA consiga “colocar alguém com uma deficiência física em voo”, acrescentou ele.
“Espero ter a oportunidade de voar no futuro. Isso seria tremendo. E também espero poder plantar a semente para deixar um legado, para que se estude a viabilidade de voar com uma gama mais ampla de deficiências”, disse o atleta de 43 anos.
A ESA destacou em um comunicado à imprensa que o estudo, no qual McFall participou de treinamentos de sobrevivência no inverno e no mar e voos em gravidade zero, realizou “um marco significativo na jornada rumo à inclusão na exploração espacial.”
“Até o momento, o estudo ‘Fly!’ não identificou nenhum obstáculo que impeça um astronauta com uma deficiência como a de John de participar de uma missão de longa duração na ISS, que normalmente dura seis meses”, afirmou a agência no comunicado.
McFall apontou para as Paralimpíadas como um exemplo de como o esporte pode mudar as percepções sociais sobre as pessoas com deficiência. “Os atletas de elite inspiram muitas pessoas. Muitas pessoas praticam esportes e têm essa admiração pelo que é necessário para competir nesse nível”, explicou ele.
“Do ponto de vista paralímpico, é extremamente importante se conectar com um público mais amplo, para conscientizar a sociedade sobre o que as pessoas com deficiências físicas são capazes de fazer”, comentou. E completou: “da mesma forma, acredito que você pode considerar ser astronauta um trabalho difícil e desafiador. Então, existe essa admiração por ter alguém com uma deficiência física nessa posição”.
Em uma coletiva de imprensa da ESA no mês passado, McFall acrescentou que sua carreira como atleta paralímpico — junto a experiência de ter passado por uma amputação traumática e seu histórico em ciência e medicina — contribuiu para seu objetivo atual.
“Acho que tudo isso me preparou muito bem para ajudar a preencher a lacuna entre essa ambição que a ESA tem e meu histórico”, disse ele, “para tentar alcançar esse objetivo de, potencialmente, ser a primeira pessoa com deficiência física a se tornar astronauta.”