Os astronautas da NASA Suni Williams e Butch Wilmore falaram, pela primeira vez, sobre a experiência de terem ficado “presos” na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). E eles expressaram, acima de tudo, gratidão.
Williams agradeceu aos colegas da cápsula Crew Dragon, da SpaceX, que os trouxeram de volta. Ela também expressou gratidão à NASA, à Boeing, à SpaceX e à equipe médica que os ajudou na readaptação à gravidade.
A dupla participou de uma coletiva de imprensa no Centro Espacial Johnson, em Houston, nos Estados Unidos, na segunda-feira (31).
Astronautas que ficaram ‘presos’ na ISS evitaram temas políticos na coletiva – mas eles rondam o episódio
Durante a coletiva, Williams, Wilmore e Nick Hague, comandante da Crew Dragon, evitaram temas políticos (mais sobre eles ao longo desta matéria). Eles destacaram o trabalho em equipe e a união durante a missão.
Wilmore não culpou a Boeing pelos problemas da Starliner. Na verdade, ele apontou a responsabilidade compartilhada entre NASA e Boeing. E disse que poderia ter feito perguntas melhores.
“Começo apontando o dedo para mim mesmo”, disse o astronauta. “Eu poderia ter feito algumas perguntas, e as respostas talvez mudassem o rumo das coisas.”

A NASA prevê um novo voo da Starliner para o fim deste ano ou 2026. Williams e Wilmore afirmaram que voariam novamente, sem hesitar.
“Vamos corrigir os problemas. A Boeing e a NASA estão comprometidas. Eu embarcaria de novo sem pensar duas vezes”, disse Wilmore. “Concordo”, disse Williams. “A espaçonave é realmente capaz.”
A ‘politicagem’ na história dos astronautas ‘presos’ no espaço
A missão começou em junho de 2024, quando a dupla embarcou na Starliner, da Boeing, para testá-la. Após a cápsula apresentar falhas no sistema de propulsão, a NASA achou melhor ela voltar à Terra vazia. E os astronautas ficaram na ISS até fevereiro.

Em janeiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu conselheiro Elon Musk alegaram – sem apresentar provas – que Williams e Wilmore tinham sido abandonados no espaço pelo governo de Joe Biden por razões políticas. Os dois astronautas negam.
Agora, a dupla retorna a uma NASA em transição, apontou o jornal New York Times. “Embora ainda não se saiba qual caminho a agência tomará”, acrescenta a reportagem.
Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) miram o desmonte de ao menos partes da burocracia federal. Ao mesmo tempo, o Musk CEO da SpaceX sonha em enviar colonos a Marte.

Isso alimenta especulações de que o programa Artemis da NASA, que planeja levar astronautas de volta à Lua, possa ser redirecionado conforme os interesses de Musk, segundo o jornal.
Enquanto isso, teme-se que outras divisões da agência – as voltadas às mudanças climáticas, ciência planetária e astrofísica, por exemplo – possam ser vítimas do facão de Musk.
Reta final e ‘era de ouro’ da Estação Espacial
A Estação Espacial Internacional está programada para operar até 2030, quando uma espaçonave projetada pela SpaceX deve retirá-la da órbita e lançá-la no Oceano Pacífico. Provavelmente será um fim dramático.

Recentemente, Musk sugeriu que a estação já cumpriu seu papel e deveria ser descartada antes disso. No entanto, os astronautas falaram sobre as pesquisas realizadas ali com admiração.
Hague disse que a complexidade dos experimentos aumentou consideravelmente em comparação ao que ele havia feito e observado na sua estadia na ISS seis anos atrás.
“Isso nos dá a sensação de que estamos vivendo a era de ouro da estação espacial, em termos de retorno sobre o investimento”, afirmou Hague. Musk e Trump provavelmente discordam. Pelo menos, em partes.