Um dos grandes desafios para astronautas que enfrentam longas viagens espaciais é a nutrição adequada. Algumas equipes se alimentam com comidas desidratadas ou liofilizadas, embaladas em recipientes especiais, além de opções líquidas e suplementos vitamínicos. Outras já cultivam folhas no espaço, como na Estação Espacial Internacional (ISS). Porém, um novo estudo sugere que, futuramente, os astronautas poderão se alimentar a partir de asteroides.
A pesquisa, publicada na quinta-feira passada (3) no The International Journal of Astrobiology, mostrou que os astronautas em longas missões espaciais poderiam recorrer aos asteroides para se alimentarem. Isso seria possível ao usar bactérias para conversão de compostos contendo carbono de asteroides em alimentos comestíveis.
Para testar essa possibilidade, os pesquisadores utilizaram hidrocarbonetos (substâncias que contêm carbono e hidrogênio) encontrados em asteroides. Por meio de um processo chamado pirólise, eles aqueceram esse material orgânico, decompondo-o em componentes menores, e, então, alimentaram uma mistura de bactérias que comem carbono.
Em seguida, os cientistas analisaram os produtos resultantes da decomposição dos hidrocarbonetos e os compararam com substâncias semelhantes encontradas em asteroides. A hipótese deles é que essas substâncias podem ser convertidas em comida com a mesma qualidade nutricional.
Em entrevista ao portal NewScientist, Joshua Pearce, da Western University, em Ontário, Canadá, explica que “quando você olha para os produtos de decomposição da pirólise que sabemos que as bactérias podem comer, e então o que está nos asteroides, eles combinam razoavelmente”. Segundo o pesquisador, após uma análise nutricional, a biomassa produzida pelas bactérias “acabou sendo um alimento quase perfeito”.
Para calcular a quantidade mínima de material orgânico que poderia ser convertida em alimento, os pesquisadores utilizaram um asteroide específico, o meteorito Murchison, como referência para os cálculos. A quantidade mínima de material orgânico que pode ser convertida em alimento vem dos hidrocarbonetos alifáticos (compostos orgânicos simples). A quantidade máxima seria se toda a matéria orgânica presente fosse convertida.
A partir desses cálculos, em um cenário mínimo, a biomassa que poderia ser gerada de um asteroide como o Bennu — que a Nasa visitou em 2020 — seria algo entre 5.070.000 g e 239.000.000 g, segundo a pesquisa. Em um cenário mais eficiente (máximo), esse valor poderia chegar entre 1.391.000.000 g e 6.556.000.000 g.
De acordo com os pesquisadores, esses valores de biomassa poderiam gerar entre 576.200.000 e 15.810.000.000 calorias, suficientes para sustentar entre 600 e 17 mil astronautas por um ano. A quantidade exata depende de quão eficientemente as bactérias podem digerir os compostos de carbono do asteroide.
“Com base nesses resultados, essa abordagem de usar carbono em asteroides para fornecer uma fonte de alimento distribuída para humanos parece promissora, mas há áreas substanciais de trabalho futuro”, dizem os pesquisadores no artigo publicado.
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