Mary Cleave, a astronauta da Nasa (agência espacial americana) que, em 1989, tornou-se a primeira mulher a voar em uma missão de ônibus espacial após o desastre do Challenger, faleceu aos 76 anos, conforme anunciado pela agência espacial na quarta-feira.
A Nasa não divulgou a causa da morte.
“Estou triste pela perda da pioneira Dra. Mary Cleave, astronauta do ônibus espacial, veterana de duas viagens espaciais e primeira mulher a liderar a Diretoria de Missões Científicas como administradora associada”, disse o administrador associado da Nasa, Bob Cabana, em comunicado. “Mary era uma força da natureza com paixão pela ciência, exploração e cuidado com nosso planeta. Ela fará falta.”
Cleave, que faleceu na segunda-feira (27), de acordo com o comunicado, era natural de Great Neck, Nova York. Ela estudou ciências biológicas na Universidade Estadual do Colorado antes de obter seu mestrado em ecologia microbiana e doutorado em engenharia civil e ambiental na Universidade Estadual de Utah.
Do ar para o espaço
Ela contou ao Projeto de História Oral da Nasa em 2002 que era fascinada por pilotar aviões desde a infância e obteve sua licença de piloto antes da carteira de motorista. Em determinado momento, Cleave disse que queria ser comissária de bordo, mas descobriu que, com 1,57 metro de altura, era muito baixa para o papel de acordo com as regras das companhias aéreas na época.
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Cleave destacou que a ação afirmativa ajudou a abrir caminho para suas paixões, permitindo-lhe a oportunidade de voar em jatos supersônicos conhecidos como T-38s.
“Para mim, o voo espacial foi ótimo, mas foi um extra por cima de voar em ótimos aviões”, disse ela à Nasa.
Cleave disse que estava trabalhando em um laboratório de pesquisa e concluindo seus estudos de doutorado em Utah quando viu um anúncio em um correio local informando que a Nasa estava procurando cientistas para se juntar ao corpo de astronautas. Ela se candidatou e foi selecionada em 1980.
Chegando à órbita
Em sua primeira missão, voando no ônibus espacial Atlantis em 1985, Cleave se tornou a 10ª mulher a viajar para o espaço. Na missão, ela atuou como engenheira de voo e ajudou a operar o braço robótico do ônibus espacial.
“Parecia que eles designavam mulheres para pilotar o braço (Sistema Manipulador Remoto do Ônibus Espacial, SRMS, ou Canadarm) com mais frequência do que os homens, e o boato na rua era porque achavam que as mulheres faziam isso melhor”, disse Cleave em sua entrevista à Nasa em 2002, observando que nunca confirmou o boato.
A segunda missão de Cleave em 1989, STS-30, também no Atlantis, ocorreu depois que a Nasa voltou a voar com tripulações exclusivamente masculinas por três missões após a explosão do Challenger em 1986, que matou todos os sete membros da tripulação a bordo, incluindo a primeira professora a ser selecionada para voar para o espaço.
Cleave era conhecida por minimizar as “primeiras” que marcou como astronauta mulher durante seu tempo na Nasa, dizendo: “As pessoas tentaram chamar a atenção para isso, e eu só deixei todo mundo saber que não achava que ninguém deveria estar fazendo um ponto especial disso.
“Isso era apenas uma parte normal das coisas, e eu simplesmente não achava bom fazer nada especial disso, porque naquele momento realmente éramos parte do corpo”, acrescentou, observando que era amiga íntima da astronauta Judith Resnick, que morreu no Challenger.
Mulheres no espaço
Cleave enfatizou que, para as mulheres na corporação naquela época, o foco sempre estava em seus trabalhos.
Ela também fez parte de um feito histórico quando atuou no sistema de comunicação por cápsula (CapCom) do controle de missão da Nasa, enquanto Sally Ride se tornava a primeira mulher a viajar para o espaço na missão STS-7 em 1983. Quando Cleave falou com Ride na órbita, tornou-se a primeira comunicação espacial feminina na história da agência. Nem Cleave nem Ride reconheceram o marco durante a conversa.
“Eu nem percebi. Aqui está Sally e eu, nem percebemos”, disse Cleave, embora um repórter tenha perguntado a ela sobre o evento depois.
Ao longo de suas duas missões de ônibus espacial, Cleave passou mais de 10 dias em órbita.
Nasa e além
Ela foi designada para outro voo após o STS-30. Mas Cleave disse que começou a mudar de ideia enquanto esperava voar, passando quatro anos em terra entre sua primeira e segunda missão. Durante esse tempo, ela ficou cada vez mais preocupada com questões ambientais.
Cleave disse que podia ver o planeta mudando enquanto olhava para a Terra do espaço. “O ar parecia mais sujo, menos árvores, mais estradas, todas essas coisas”, disse ela ao Projeto de História Oral da Nasa.
“Eu simplesmente não conseguia ficar animada com o que estava fazendo, porque não estava relacionado a isso”, acrescentou, referindo-se ao seu trabalho como astronauta.
Cleave disse que tomou a difícil decisão de se afastar do corpo de astronautas e do centro de astronautas da Nasa em Houston, assumindo um cargo no Goddard Space Flight Center, em Maryland, em 1991. Lá, ela trabalhou em um projeto chamado SeaWiFS, um sensor de monitoramento oceânico que media a vegetação global, segundo a Nasa.
Cleave eventualmente se mudou para trabalhar na sede da Nasa em Washington, DC, em 2000, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de administradora associada da Diretoria de Missões Científicas da agência, a posição mais alta que supervisiona os programas de pesquisa da agência espacial. Nesse papel, Cleave “guiou uma série de programas de pesquisa e exploração científica para o planeta Terra, clima espacial, sistema solar e universo”, de acordo com a Nasa.
Ela se aposentou da Nasa em 2007, optando por se envolver em trabalho voluntário e incentivar jovens mulheres a seguir carreiras científicas, de acordo com sua biografia no site do governo de Maryland.
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