O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim, disse que o embaixador brasileiro em Tel-Aviv, Frederico Meyer, não deve voltar a Israel. A declaração foi feita nesta sexta-feira, 24, em Pequim, na China.
“Não havia alternativa”, afirmou Celso Amorim, em entrevista ao jornal O Globo. “Nosso embaixador foi humilhado. Acho que ele não volta. Se vai outro, não sei, mas ele não volta. Ele foi humilhado pessoalmente, e, com isso, o Brasil foi humilhado. A intenção foi humilhar o Brasil.”
Em fevereiro, em meio a tensões na relação entre Brasil e Israel, Meyer foi convocado de volta ao Brasil. O chamado surgiu como resposta a um incidente no qual o chanceler israelense, Israel Katz, repreendeu publicamente Meyer no Museu do Holocausto, em Jerusalém, ato que o governo brasileiro considerou inaceitável.
Origem e escalada da crise diplomática entre Brasil e Israel
A crise originou-se da forte condenação do governo brasileiro às contraofensivas de Israel na Faixa de Gaza em 7 de outubro, depois de o país sofrer os ataques do grupo terrorista Hamas.
A situação escalou quando Lula deu uma declaração durante uma viagem à Etiópia, quando comparou as ações militares israelenses ao genocídio de judeus pela Alemanha nazista.
Lula declarou que o que acontecia em Gaza com os palestinos só encontrava paralelo histórico no período “quando Hitler resolveu matar os judeus”, durante a Segunda Guerra Mundial.
Essa comparação gerou grande indignação em Israel, o que resultou em uma quebra de protocolo diplomático. O chanceler Katz convocou Meyer para uma reunião pública no Museu do Holocausto, onde mostrou uma lista de familiares assassinados no Holocausto e declarou Lula “persona non grata em Israel até que retire o que disse”.
O governo brasileiro, ao recusar-se a pedir desculpa, chamou Meyer de volta — ato que congela as relações diplomáticas. Nos dias seguintes, Katz insistiu em que Lula devia um pedido de desculpa a Israel, chamando suas declarações de “vergonha para o Brasil e uma cusparada no rosto dos judeus brasileiros”.
Em Pequim, Celso Amorim discute a guerra na Ucrânia
Celso Amorim e o chanceler chinês, Wang Yi, concentraram-se principalmente em debater a guerra na Ucrânia. Ambos assinaram uma proposta que defende a realização de uma conferência de paz, com a participação da Rússia, para negociar o fim do conflito.
“O que acontece hoje me causa enorme desgosto”, ressaltou Celso Amorim. “Durante o [primeiro] governo Lula, fui cinco vezes a Israel e cinco vezes à Palestina. E tinha esperança. Com toda a dificuldade que havia, via um desejo de negociar de lado a lado. E hoje não há.”