Em 1939, Aspen ainda não era um resort de esqui mundialmente famoso. As disputadas encostas, com passes diários que ultrapassam os US$ 200 (cerca de R$ 1.140), e as lojas de grife, como Gucci e Prada, estavam longe de ser realidade.
Quem marcava presença, na verdade, era a natureza intocada, rodeada de rios, árvores e picos nevados no coração das montanhas do Colorado. Era o maior atributo da antiga cidade mineradora, que, após o colapso do mercado de prata em 1893, ficou por mais de quatro décadas parada no tempo.
Foi esse o cenário encontrado por Elizabeth Paepcke no fim dos anos 1930. Mulher de Walter Paepcke, magnata de Chicago, Elizabeth não conteve a alegria ao contar para o marido que havia encontrado o lugar ideal para a visão de renovar “corpo, mente e espírito” imaginado por Walter.
Era a semente do Aspen Institute, organização global sem fins lucrativos fundada em 1949 e que hoje possui um campus na cidade que abrange um resort de 98 quartos, um museu gratuito, centros de pesquisa, espaço para concertos e diferentes pavilhões para seminários, além de obras de arte ao ar livre.
O mais impressionante? Além de ser aberta ao público, com atividades gratuitas, a propriedade de 16 hectares é marcada pelo estilo Bauhaus, cujos princípios de funcionalidade e beleza alemães funcionam como um contraponto interessante à própria cidade.
Espaço artístico gratuito
-
1 de 2
Obras da mostra temporária “Bauhaus Typography at 100”, que celebra a tipografia e os designs gráficos de Herbert Bayer, no Resnick Center for Herbert Bayer Studies • Divulgação
-
2 de 2
“Sgraffito Wall” é um mural de 1953 que adorna uma das paredes externas do Koch Building, no campus do Aspen Institute • Saulo Tafarelo
Em uma das extremidades do campus fica o Resnick Center for Herbert Bayer Studies, galeria de entrada gratuita que preserva e celebra o legado de Herbert Bayer, artista e designer por trás da concepção das instalações da propriedade.
Egresso da escola Bauhaus, o austríaco projetou o campus. Ele se mudou para Aspen em 1946 e ajudou a revitalizá-la no pós-guerra.
“O começo dessa cidade tem a ver com o compartilhamento de ideias e de formas artísticas. Quando Bayer veio para cá, ele trouxe a estética Bauhaus. Foi um lugar que atraiu muitos artistas e continua a ser assim”, diz Mary Fox, assistente de serviços ao visitante do Resnick Center for Herbert Bayer Studies.
Conhecido por seu trabalho em design gráfico, a carreira de Bayer pode ser vista através de obras e exposições temporárias na galeria, que conta com dois andares. Até abril, por exemplo, fica em cartaz a “Bauhaus Typography at 100”, que exibe livros, revistas, catálogos, folhetos, pôsteres e artigos de papelaria de autoria do artista.
As surpresas não param por aí: a grande propriedade, aberta a visitantes e que pode ser percorrida a pé, é cheia de caminhos e trilhas que levam às diferentes construções. Várias esculturas de Bayer descansam pelo trajeto, que são envolvidas pela neve durante o inverno, mas que se revelam no verão.
Uma vez aqui, saia em busca da “Anaconda”, escultura de sete peças com mármore Carrara datada de 1978; do “Marble Garden”, jardim de mármore com 19 peças de 1955; do mural “Sgraffito Wall”, de 1953, que adorna uma das paredes externas do espaço de seminários Koch Building; e do Anderson Park, jardim projetado em 1973 pensado para escalar, brincar, sentar e meditar. Um guia oficial para o tour de arte a pé pode ser conferido aqui.
Na propriedade, mais um resquício da visão de Bayer fica evidente: para se locomover de um ponto a outro, o visitante deve, intencionalmente, andar ao ar livre, sendo mais uma tática usada pelo artista para a conexão com o mundo exterior.
Resort estilo Bauhaus
-
1 de 5
Apartado do centro, Aspen Meadows Resort é exemplo de construção Bauhaus e está inserido em campus com núcleos culturais • Saulo Tafarelo
-
2 de 5
Mesmo edifício tem paredes pintadas de diferentes cores para captar o olhar a partir de diversos ângulos • Saulo Tafarelo
-
3 de 5
Interior de uma das suítes do Aspen Meadows Resort, marcada por grandes janelas e design utilitário, sem perder o charme • Divulgação
-
-
4 de 5
Salão de jantar do West End Social, principal restaurante do Aspen Meadows Resort, aberto ao longo de todo o dia • Jason Dewey
-
5 de 5
Apartado do centro de Aspen, campus exala tranquilidade e fica ainda mais pitoresco no inverno, com trilhas e caminhos marcados por muita neve • Divulgação
O Aspen Meadows Resort soma 98 suítes, espalhadas em seis edifícios baixos e retangulares, construídos com blocos de concreto. Eles traduzem bem um dos lemas da escola Bauhaus, em que a forma deve seguir a funcionalidade.
Utilitários e discretos, os edifícios destacam-se pelas grandes janelas. Em uma das fachadas, mais uma curiosidade: as paredes foram pintadas de amarelo de um lado e vermelho do outro, criando um elemento surpresa, fazendo com que visitantes olhem mais de uma vez para o mesmo edifício a partir de diferentes ângulos.
Criado como um retiro para receber personalidades, desde presidentes até ganhadores do prêmio Nobel, a geometria simples, de linhas modernistas, acalma o olhar. A localização ajuda, já que o resort é suficientemente afastado para garantir isolamento, mas perto o bastante para entregar o melhor de Aspen, com restaurantes e outros pontos culturais a poucos quilômetros.
As tarifas costumam ser mais camaradas em comparação a hotéis próximos à montanha e os quartos, a maioria com 55 m², acomodam desde casais até famílias, onde o design inteligente e utilitário mostra que menos é mais.
Para não hóspedes, uma refeição no restaurante West End Social pode ser uma boa escapada. O salão de enormes vidros enquadra as montanhas ao fundo e, à mesa, refeições em estilo brunch são servidas diariamente das 7h às 14h. Cardápio de après-ski e jantar também estão disponíveis todos os dias.
Agito cultural
Concertos de música clássica e debates com líderes de diferentes setores são outras atividades que preenchem a agenda do campus. Neste ano, o Aspen Music Festival and School, uma das principais programações de música clássica dos Estados Unidos, acontece entre 2 de julho e 24 de agosto.
Já o Aspen Ideas Festival reúne líderes e pensadores de todo o mundo para discutir diferentes assuntos que refletem a sociedade, buscando respostas, ou lançando perguntas, para o futuro. Neste ano, a agenda se estende de 25 de junho a 1º de julho. Nomes como Bill Gates, Jane Fonda, Chimamanda Ngozi Adichie e o chef brasileiro Paulo Machado já palestraram em edições passadas.
“Walter e Elizabeth Paepcke vieram para cá e tiveram uma visão, já que viram um lugar repleto de beleza. Era uma visão de como reunir pessoas neste lindo local, onde poderíamos nos divertir e ao mesmo tempo nos expressar. A arte se concentrava tanto na troca de ideias quanto no cenário ao redor”, afirma Mary Fox.
Não é exagero, portanto, dizer que o casal cimentou o caminho para que Aspen, além do esqui e de toda a pompa, mantivesse uma alma artística.
*O jornalista viajou a Aspen a convite de Aspen Snowmass e Delta Air Lines.
10 hotéis imperdíveis para 2025: lista de desejos de Daniela Filomeno