O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou milhares de registros da CIA relacionados ao assassinato do ex-presidente dos EUA John F. Kennedy (JFK) na última terça-feira 18. Ao todo, são mais de 77 mil páginas sobre o caso, que ocorreu em 1963.
A publicação dos documentos expôs as identidades de pessoas que trabalharam para a CIA, a agência de espionagem norte-americana — papéis que, em muitos casos, permaneceram ocultos por décadas, até mesmo de familiares próximos.
Algumas famílias descobriram como pais, avôs ou cônjuges participaram da espionagem norte-americana, como investigações contra apoiadores de Fidel Castro, instalações de escutas clandestinas em agências chinesas ou extrações de dados de oficiais soviéticos.
Assassinato de Kennedy em pauta na URSS
Exemplo disso é John Smith, neto do professor universitário E.B. Smith, autor de livros sobre presidentes norte-americanos da primeira metade do século XIX. Com a divulgação dos documentos, John soube que seu avô era um agente do governo dos EUA, responsável por fornecer informações da União Soviética para a CIA.
“É surpreendente”, disse John ao jornal norte-americano The New York Times. Ao analisar suas memórias, ele identificou algumas características que não havia percebido antes. John já sabia que seu avô havia morado na União Soviética e mantinha conexões lá, mesmo depois de voltar para os EUA.

O memorando descreve os esforços de Smith para obter informações sobre os laços dos soviéticos com Lee Harvey Oswald, assassino de Kennedy. Ele descobriu que agentes da KGB haviam monitorado Oswald “de perto e constantemente” enquanto ele esteve na URSS, mas que ele era um péssimo atirador.
Um dos objetos mais valorizados pela família de John Smith é uma foto de seu avô — que era ativo no Partido Democrata — sentado com Kennedy no Salão Oval. Ao descobrir o papel de seu avô na coleta de informações sobre o assassinato de Kennedy, Smith disse que a imagem agora tem um significado ainda maior.
CIA de olho em Fidel Castro
A viúva Dorothy North, de 76 anos, também descobriu que seu marido trabalhou para a CIA somente depois da revelação dos documentos. Um dos arquivos o descrevia como uma “fonte de longa data de valor excepcional”. “É um choque”, disse ela.
Durante o dia, Robert North lecionava Relações Internacionais na Universidade de Stanford. Fora da sala de aula, ele fornecia a autoridades dos EUA informações de inteligência que extraía de suas pesquisas geopolíticas.

Um memorando da CIA datado de 24 de outubro de 1962, no auge da crise dos mísseis de Cuba, relata que North viajou para Miami e conversou com 25 ex-apoiadores do ditador cubano Fidel Castro.
A única pista que ela teve sobre seus envolvimentos com a inteligência era o fato de que o FBI frequentemente o visitava para entrevistá-lo depois de suas viagens de pesquisa. “Ele era um patriota”, disse Dorothy, “e provavelmente via seu trabalho para os oficiais de inteligência dos EUA como uma maneira de ajudar seu país.”
Interferências na relação Cuba-China
Mark Mills, hoje com 67 anos, sempre soube que seu pai era um agente da CIA. No entanto, somente nesta semana foi revelado que ele se envolveu em operações de espionagem em Cuba.
Em 1959, depois da revolução socialista, a mídia estatal chinesa abriu um escritório em Havana. A CIA não perdeu tempo e colocou escutas no local. Um ano depois, Bryan Mills foi enviado para expandir a operação e alugou um apartamento diretamente acima da agência chinesa para instalar mais equipamentos, de acordo com o memorando.

Depois que Mills deixou Cuba, as coisas deram errado. As autoridades cubanas prenderam três técnicos — que se passavam por turistas — cuja missão era instalar equipamentos de vigilância no apartamento que Mills havia alugado.
Mark disse que seu pai nunca mencionou a viagem a Cuba. “Eu sabia que ele tinha passado por situações complicadas”, disse ele. Quando criança, no começo da década de 1960, seu pai ia para o Vietnã, e a família não tinha notícias dele por um ou dois meses. Ele via a preocupação constante no rosto de sua mãe. “Ele nunca falava sobre nada disso.”