quinta-feira, setembro 19, 2024
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Armamento da era soviética está perto de se esgotar na Rússia

Para manter operações militares na Ucrânia, a Rússia recorreu a armamentos da era soviética. Com perdas de 3 mil tanques e 5 mil veículos blindados, esta foi a alternativa do presidente Vladimir Putin para se manter firme nas invasões, que já duram mais de 2 anos.

Um dos sinais da o enfraquecimento das forças russas é a ofensiva contra Kharkiv, que começou em maio, ao norte, e já dá sinais de fracasso.

Seus avanços em outras frentes, especialmente em Donbass, foram insignificantes e custaram caro. A nova questão é por quanto tempo a Rússia pode manter o ritmo atual das operações.

A questão principal não é a falta de soldados. A Rússia continua a recrutar cerca de 25 mil homens por mês, mantendo cerca de 470 mil militares no front, embora a um custo maior. A produção de mísseis para atacar a infraestrutura ucraniana também está em alta.

Contudo, apesar de dedicar 8% do PIB aos gastos militares, a Rússia só consegue repor suas perdas de tanques e veículos blindados renovando equipamentos da era soviética. Esses estoques, embora vastos, não são ilimitados.

Perdas significativas de equipamentos e inclusão de armamento da era soviética

O site Oryx, que monitora perdas militares, confirma 3.235 tanques destruídos com evidências visuais, mas sugere que o número real é “significativamente maior”.

Aleksandr Golts, do Centro de Estudos da Europa Oriental de Estocolmo, afirma que Vladimir Putin deve agradecer ao antigo Politburo pelos enormes arsenais acumulados durante a Guerra Fria.

“Os líderes soviéticos sabiam que o equipamento militar ocidental era mais moderno, por isso, optaram pela quantidade, produzindo milhares de veículos em tempos de paz, em caso de guerra”, afirmou Golts.

Em dezembro de 2023, o então ministro da Defesa, Sergei Shoigu, anunciou que 1.530 tanques foram entregues ao longo do ano, omitindo que quase 85% eram modelos antigos, como T-72, T-62 e até alguns T-55 da Segunda Guerra Mundial, apenas reformados.

Desde o início da invasão, cerca de 175 tanques T-90m, relativamente modernos, passaram a operar no campo de batalha. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE) estima que a produção anual pode chegar a 90 unidades este ano.

No entanto, muitos T-90m são atualizações dos antigos T-90a, e a produção de novos T-90m este ano pode ser de apenas 28 unidades.

Pavel Luzin, especialista em capacidade militar russa, avalia que a Rússia pode construir apenas 30 novos tanques por ano. Ano passado, um T-90m capturado pelos ucranianos tinha um canhão fabricado em 1992.

Problemas na produção militar

Luzin calcula que a capacidade da Rússia para construir ou renovar tanques e veículos de combate enfrenta a falta de peças de reposição.

Armazéns de componentes destinados a 2025 já foram utilizados, e sanções bloqueiam importações cruciais da Europa. Alternativas chinesas, quando disponíveis, não atendem aos padrões de qualidade.

A produção de ligas metálicas diminuiu nos últimos dois anos. Boa parte da soldagem nas fábricas de armas ainda artesanal, e as empresas enfrentam dificuldades para recrutar trabalhadores suficientes. Dependem de maquinário importado há anos da Alemanha e Suécia, que agora é antigo e de difícil manutenção.

Desgaste dos canhões

A desvantagem de um fogo tão intenso tem sido o desgaste dos canhões, segundo os russos. Em áreas altamente contestadas, canhões de obuses precisam ser de substituição depois de alguns meses.

A cadeia de abastecimento soviética não existe mais, e os centros de fabricação de armas na Ucrânia, Geórgia e Alemanha Oriental acabaram se perdendo. O número de trabalhadores no complexo militar-industrial da Rússia caiu de 10 milhões para 2 milhões, sem grande automação para compensar.

A produção de canhões de artilharia enfrenta problemas. A Rússia, com ajuda da Coreia do Norte, tem munições suficientes para superar os ucranianos em uma proporção de 5 para 1.

Mas o desgaste dos canhões é alto, e a Rússia possui apenas duas fábricas com máquinas de forja rotativa necessárias para fabricar canhões, importadas da Áustria. Cada uma pode produzir cerca de 100 canhões por ano, insuficiente para a demanda.

Canibalização de canhões antigos

A solução tem sido canibalizar canhões antigos e instalá-los em obuses autopropulsados. Richard Vereker acredita que até o início deste ano, cerca de 4.800 canhões foram trocados. A longevidade desses canhões depende da condição dos 7 mil restantes.

Com sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, como o TOS-1a, rajadas mais curtas são usadas para prolongar a vida útil dos canhões.

O maior problema são os tanques e veículos de combate de infantaria, cruciais para operações terrestres em grande escala. Em fevereiro, o IIEE estimou que a Rússia tinha cerca de 3.200 tanques armazenados.

Gjerstad diz que até 70% deles “não se moveram um centímetro desde o início da guerra”. Muitos T-72 foram armazenados a céu aberto desde os anos 1990 e estão em condições precárias.

Possível ponto crítico de exaustão

Golts e Luzin reconhecem que, com as atuais taxas de desgaste, a renovação dos tanques e veículos de infantaria atingirá um “ponto crítico de exaustão” no segundo semestre de 2024.

Gjerstad estima que isso pode ocorrer alguns meses depois. O novo ministro da Defesa, Andrei Belousov, foca em aumentar a produção de drones.

“A menos que algo mude, antes do final deste ano, as forças russas podem ter que adotar uma postura mais defensiva”, diz Gjerstad.

Segundo ele, isso pode se tornar evidente antes do final do verão no hemisfério norte. Diante essa possibilidade, interesse de Putin em um cessar-fogo temporário poderá aumentar em breve.

Com informações do The Economist.

Via Revista Oeste

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