A cidade de Antakya (ou Antioquia) foi uma das mais atingidas pelos dois terremotos que abalaram o sul da Turquia em fevereiro de 2023. Agora, a empresa de arquitetura “Foster + Partners” planeja reconstruir, revitalizar e blindar a cidade contra desastres naturais, principalmente terremotos.
A Foster foi contratada pelo Conselho de Design da Turquia, uma organização não governamental, seis meses após os terremotos. Sua missão é liderar um consórcio internacional de equipes no desenvolvimento de uma estratégia para reconstruir a região.
O sul da Turquia e o norte da Síria foram atingidos por terremotos de magnitude 7,8 e 7,5 no ano passado. Em Antakya, quase 80% das construções foram danificadas a ponto de não ter conserto. A devastação por lá foi “além da imaginação”, disse Nicola Scaranaro, da empresa de arquitetura, em entrevista à CNN.
Empresa tem plano para blindar cidade na Turquia contra terremotos (e outros desastres naturais)
A ideia da empresa é reconstruir a cidade de forma que a nova estrutura a proteja contra terremotos, enchentes e outros desastres naturais. Mas este é o tipo de missão muito mais fácil de colocar no papel do que tirar dele.
Para começar, a cidade fica no pé do Monte Habib Neccar, no vale do Rio Asi. Sua proximidade com o rio significa que o impacto destrutivo dos terremotos é exacerbado pela liquefação do solo. Esse fenômeno faz com que o solo perca sua rigidez e se comporte mais como líquido (daí o nome).
Com edifícios ao longo das margens do Asi, enchentes também têm representado um perigo há muito tempo para quem mora em Antakya. Segundo estimativas da Foster, mais de 45 mil moradores em 2,5 milhões de metros quadrados corriam risco de serem afetados por enchentes. E as mudanças climáticas aumentam esse perigo.
O plano
A arquitetura e o design das ruas atuarão como a primeira linha de defesa contra o impacto dos terremotos. E edifícios compactos deverão lidar melhor com a atividade sísmica do que as grandes e longas estruturas em forma de L que antes se espalhavam por Antakya.
Os “superquarteirões” de bairro, inspirados nos de Barcelona, promoveriam zonas livres de carros. Eles também iriam garantir múltiplas rotas na sequência de um desastre; tanto para serviços de emergência quanto para moradores.
Essa configuração também beneficia a qualidade de vida, segundo Scaranaro. Isso porque diminuiria o tráfego de veículos e aumentaria o número de espaços urbanos verdes.
Esses espaços verdes podem desempenhar um papel integral na proteção contra inundações, acrescentou ele. A ideia é marcar muitas faixas de terras ao longo do rio para não reconstruir prédios.
Em vez disso, margens contínuas do rio e parques preencherão essas áreas de alto risco. Seria uma “zona tampão” natural quando as margens transbordarem, absorvendo a água das enchentes.
Plantados com espécies nativas, a rede de espaços verdes e parques comunitários locais proporcionaria habitats vitais para a flora e a fauna. E funcionaria como “corredores verdes” para a movimentação da vida selvagem.
O consórcio liderado pela Foster deseja estabelecer um “novo modelo cooperativo para a revitalização de cidades atingidas por desastres” em todo o mundo. É uma abordagem centrada no clima que, segundo Scaranaro, tem sido muito negligenciada. E o preço por isso se paga em vidas e sofrimento.