terça-feira, maio 13, 2025
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Antes do conclave, Frei Betto descartou um papa dos EUA

No dia anterior à votação que elegeu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como papa Leão XIV, o teólogo Frei Betto afirmou que via como “muito, muito remota” a possibilidade de um papa dos Estados Unidos. A declaração foi dada em entrevista ao portal de esquerda Brasil de Fato na última quarta-feira, 7.

“O que eu conheço da Igreja, [me leva a] descartar inteiramente qualquer cardeal dos EUA”, disse o dominicano. Ele relatou ter ouvido de um cardeal com experiência em dois conclaves que, “como eles [os norte-americanos] são os mais ricos da Igreja e os mais arrogantes, há uma rejeição a eles muito forte”.

Betto ainda mencionou um episódio com o presidente Donald Trump como agravante do desconforto com os norte-americanos. “Essa rejeição deve ter aumentado no momento em que o Trump deu um tiro no pé ao divulgar aquela foto dele fantasiado de Papa”, avaliou. “Isso causou profunda indignação na Igreja, inclusive por parte dos conservadores.”

Apesar da previsão, os cardeais reunidos no conclave optaram por um nome dos EUA e romperam com a expectativa traçada pelo teólogo. Prevost nasceu em Chicago, em 1955, e até a eleição exercia funções importantes na Cúria Romana, como a chefia do Dicastério para os Bispos.

Na entrevista, Betto havia apostado na possibilidade de vitória de nomes italianos ou do cardeal filipino Luis Antonio Tagle, mas ressaltou que o “o único problema que conta contra ele é que ele é muito novo”, ao observar que os cardeais poderiam evitar um pontificado longo como o de João Paulo II, que durou 26 anos.

Para o frei, os africanos também estavam fora do páreo, apesar de reivindicarem a liderança com base na expansão do catolicismo no continente: “São todos, sem exceção, conservadores”, lamentou. “Acho muito difícil que o Conclave venha a eleger um cardeal que vai criar uma ruptura com a linha do Francisco.”

Frei Betto apostava em um papa italiano

Ele também apostou na possibilidade de retorno da hegemonia italiana e citou os cardeais Pietro Parolin e Matteo Zuppi como possíveis eleitos. Zuppi, que preside a Conferência Episcopal Italiana, era, segundo ele, o mais alinhado com a linha de Francisco, “tanto nas questões de costumes quanto nas questões sociais, climáticas, etc.”.

Sobre os bastidores da escolha, Betto alertou que o processo seria mais demorado do que os conclaves anteriores. Enquanto as eleições de Bento XVI e Francisco duraram 48 horas, ele previu algo entre “três ou quatro dias”, por causa das dificuldades de alcançar o quórum de dois terços.

O cenário, segundo ele, era marcado por fragmentação: “Muitos são estranhos uns para outros, de modo que é absolutamente imprevisível”, considerou. No entanto, o tempo de duração do processo de escolha de Prevost foi igual aos de seus antecessores.

Papa Leão XIV logo após ser eleito | Foto: REUTERS/Yara Nardi/File Photo
Papa Leão XIV logo depois de ser eleito | Foto: REUTERS/Yara Nardi/File Photo

Na ocasião, o frei destacou a influência dos cardeais com mais de 80 anos, que, embora sem direito a voto, permanecem presentes nas discussões: “Às vezes eu escuto na imprensa, leio, que só os 133 decidem”, disse. “[Os decanos] não decidem pelo voto, mas os demais convivem com eles ali dentro todo o período que durar o conclave.”

A entrevista ainda abordou a representatividade latino-americana. O teólogo informou que o Brasil contava com oito cardeais — sete eleitores — no conclave e destacou Leonardo Steiner como o mais alinhado com o papa Francisco.

“É uma pessoa que conheço pessoalmente, acompanho há muitos anos a sua atividade pastoral, um defensor intransigente dos povos originários da Amazônia, do equilíbrio ambiental”, elogiou o religioso. “Quando denuncia as mazelas sociais, ele aponta as causas.”

As reações à eleição de Prevost

Ainda que o novo papa tenha nascido nos EUA, Betto classificou Leão XIV como um “peruano de coração”. “Ele ter exercido todo o seu ministério, como sacerdote e como bispo no Peru, me dá muita esperança nele, que vai continuar a linha de Francisco”, disse o religioso em entrevista ao Estado de Minas.

Ainda ao jornal mineiro, Betto observou que a escolha do nome papal também possui forte carga simbólica: “Ele adotou o nome Leão XIV, o segmento de Leão XIII, que foi o papa da reforma trabalhista, o papa que fez a encíclica Rerum Novarum […] em que abordava a favor dos trabalhadores, a relação entre trabalhadores e empresários”.

A revista Fórum também ouviu o frei, que confessou sua surpresa com a eleição de Prevost. Segundo ele, o histórico latinoamericano de Prevost ameniza a rejeição aos cardeais norte-americanos.

A entrevista à Fórum também revelou um olhar crítico ao primeiro discurso de Leão XIV. Frei Betto declarou estar “um pouco decepcionado” e que esperava “um sermão delineando caminhos para a maior inserção da igreja no mundo”, mas encontrou uma fala “mais centrada na fé do que no amor e mais centrada na piedade do que na justiça”.



Via Revista Oeste

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