Muita gente confunde poesia com construções cerebrais, forçadas, sem espontaneidade alguma, versos quebrados, sem musicalidade, agressivos e, às vezes, odientos.
Sem o menor esforço de análise, vê-se logo que se trata de um enfadonho manifesto político ditado por mentes que encontram em tudo uma razão para vomitar a sua ira.
Esse estilo “poético” teve o seu auge nos anos 70, classificado à época como poesia de protesto.
A verdadeira poesia, no entanto, brota do coração e da alma do poeta, tem ritmo, musicalidade, elegância e encanta os ouvidos sensíveis, mesmo quando expressa amargura, tristeza e desencanto com alguém ou com alguma coisa.
Já os versos panfletários da poesia engajada, via de regra, áridos, toscos e agressivos, às vezes não passam de um amontoado de palavras desconexas que nada expressam, a não ser a pobreza de espírito de seus autores.
Portanto, foi de natureza essencialmente política a revolução provocada pelo Mimeógrafo, possibilitando a impressão de folhetos, jornais, panfletos, revistas e até livros, especialmente quando surgiu o stêncil eletrônico (?) que permitia a impressão de ilustrações e fotos.
A partir daí, favorecidos pelos baixos custos de produção, as publicações de oposição ao regime militar se multiplicaram rapidamente pelo país afora.
Não foi o movimento cultural que se fortaleceu com a “geração mimeógrafo”, repito, mas o combate ao regime de exceção em vigor no país.
Em Teresina, este jornalista fez circular o jornalzinho alternativo CHOQUE e na cidade de Parnaíba circulava o jornal INOVAÇÃO, editado por um grupo de jovens, entre os quais Alcenor Candeia e Elmar Carvalho. Em Água Branca circulava também um jornalzinho mimeografado, editado por Zózimo Tavares.
A “poesia de protesto” não prosperou entre nós, foi sepultada logo após a redemocratização do país, no início dos anos 80, deixando poucos vestígios.
No plano nacional, o movimento ganhou ampla repercussão na mídia e projetou alguns nomes, como Paulo Leminski, Chacal, Cacaso e Ana Cristina César.
Alguns críticos e analistas incluem o poeta piauiense Torquato Neto como sendo da geração mimeógrafo, mas a verdade é que ele já era um jornalista (colunista da Última Hora) poeta e músico consagrado quando a poesia marginal ganhou as ruas.
Agora é bom ressaltar, a bem da verdade, que no Piauí nem todos os poetas da chamada Geração 70 tinham o perfil acima descrito e muitos produziam e continuam produzindo poesia de qualidade.
Destaco aqui os poetas piauienses Rubervan do Nascimento, William Melo Soares, Chico Castro, Paulo Machado, Bete Rego, Salgado Maranhão (de dupla naturalidade: maranhense de nascimento e piauiense por adoção), Elmar Carvalho, Eduardo Lopes, José Menezes de Moraes, Emerson de Tuntum, José Ozildo Barros, entre outros.
Dessa geração muitos já faleceram, infelizmente, como os poetas Wilton Santos, Zemagão, Elias Paz e Silva e Jamerson Lemos, mas deixaram uma excelente produção poética.
Finda a guerra política, ensarilharam as armas e abandonaram o protesto poético. Restaram poucos.