O ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida afirmou que Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial do Brasil, “se perdeu num personagem” ao acusá-lo de importunação sexual.
Silvio deixou o governo em setembro de 2023, depois de receber acusações de assédio sexual. Anielle é uma das pessoas que o acusam de ser sua vítima. Em entrevista ao portal UOL, nesta segunda-feira, 24, o ministro negou as acusações e afirmou que ambos caíram “em uma armadilha política”.
“Acho que ela caiu numa armadilha, a falta de compreensão de como funciona a política, a armadilha que eu caí também”, disse o ex-ministro, referindo-se a Anielle. “Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem.”
Silvio destacou que a tensão com Anielle se agravou depois de uma reunião sobre racismo em aeroportos. Segundo ele, a ministra foi “extremamente deselegante” ao discordar de seu posicionamento.
“Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar você quer dar aula’”, alegou Silvio. “Calei-me. Tinha outro compromisso e saí da reunião. Minha secretária executiva acompanhou o restante.”
Ele também negou ter sussurrado palavras eróticas nos ouvidos da ministra e ter passado a mão em sua perna por baixo da mesa durante o encontro: “Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra, numa reunião na frente do diretor geral da PF? Isso é um descalabro”.
O ex-ministro relata que, quando as denúncias começaram a circular pelos corredores do governo, surgiram “boatos” sobre uma possível ascensão ao Supremo Tribunal Federal ou ao Senado por São Paulo.
Indagado se grupos poderiam ter orquestrado um ataque para prejudicar sua carreira, Silvio classificou como “ingenuidade” pensar que, ao longo da trajetória, não angariaria adversários.
“Quando se começa a se falar da possibilidade de eu ocupar cargos no Judiciário, há resistências de grupos que entram em conflito comigo”, justificou o ex-ministro. “E ainda parcelas de grupos do movimento negro, que não é homogêneo. Há disputa de espaço, poder e dinheiro.”
Por fim, Silvio afirmou ter se sentido isolado no governo por não pertencer a nenhum partido ou grupo específico. Ainda assim, afirmou que não se decepcionou com Lula. Justificou que o presidente não tinha alternativa diante das acusações e que foi levado a uma situação incontornável.
Anielle rebate entrevista de Silvio Almeida
Em resposta às declarações do ex-ministro, Anielle afirmou, por meio de suas redes sociais, que a “tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em ‘fofocas’ e ‘brigas políticas’ é inaceitável”.
“Importunação sexual não é questão política, é crime”, destacou Anielle. “Sendo assim, reitero minha confiança na seriedade das investigações conduzidas pela Polícia Federal e reforço meu compromisso com a defesa das vítimas e o combate à violência de gênero e raça”.
A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em “fofocas” e “brigas políticas” é inaceitável.
Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal como investigado, o acusado escolheu utilizar um espaço público para… pic.twitter.com/2CpJOmlrCg
— Anielle Franco (@aniellefranco) February 24, 2025
Silvio prestará depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira, 25, em Brasília. O inquérito investiga o caso e está em segredo de Justiça.