sexta-feira, novembro 22, 2024
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Anel “fantasmagórico” no coração da Via Láctea intriga cientistas

Um artigo recém-publicado na revista Astronomy and Astrophysics descreve a descoberta de um anel “fantasmagórico” localizado próximo ao centro da Via Láctea, que foi detectado pelo radiotelescópio MeerKAT, localizado na África do Sul. 

Batizado de J1802-3353 e apelidado de Kýklos, que significa “círculo” em grego, o objeto despertou a curiosidade de astrônomos, que ainda tentam desvendar sua origem e natureza.

Anel Kyklos se destaca nesta imagem captada pelo MeerKat, radiotelescópio localizado na África do Sul. Crédito: C. Bordiu (INAF)

Em 2020, o telescópio Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP) identificou estruturas incomuns que foram nomeadas de Odd Radio Circles (ORCs). Esses objetos passaram despercebidos por muito tempo devido ao seu tamanho colossal, ocupando grandes áreas do céu e escapando da detecção por telescópios com campos de visão limitados. 

Segundo os autores do novo estudo, o Kýklos compartilha características com os ORCs, como a forma circular, mas é muito mais fraco. O que o torna particularmente interessante é o fato de estar localizado na Via Láctea, diferentemente dos ORCs, que foram encontrados em galáxias distantes a centenas de milhões de anos-luz daqui.

Natureza de anel recém-descoberto na Via Láctea ainda é um mistério

Situado a cerca de seis graus do plano da Via Láctea, o Kýklos não apresenta vínculos aparentes com galáxias distantes, sugerindo que seja significativamente menor e mais próximo do que os ORCs. Acredita-se que ele esteja localizado nas proximidades do centro galáctico. 

A verdadeira natureza desse objeto continua desconhecida. Ele se apresenta como um anel quase circular, com um diâmetro aparente de pouco mais de um minuto de grau, comparável ao tamanho de uma grande cratera lunar.

Os cientistas especulam que o Kýklos possa ser resultado de um fenômeno conhecido como “clareamento de membros”, no qual as bordas externas de uma estrutura esférica fina parecem mais intensas devido à maior quantidade de material nessas regiões. Isso pode indicar que o anel se formou a partir da expansão em um espaço não uniformemente preenchido. Perto dele, há uma estrela azul brilhante e algumas fontes infravermelhas, mas não está claro se esses objetos estão relacionados ao anel.

Exemplo de Odd Radio Circle, o ORC J2103-6200, descoberto em 2022. Crédito: Jayanne English / MeerKAT

A descoberta dos ORCs anteriormente levou alguns astrônomos a sugerir que essas estruturas poderiam ser causadas por várias supernovas ocorrendo quase simultaneamente em galáxias do tipo starburst, lançando gás ao espaço. No entanto, essa teoria pode não ser aplicável ao Kýklos, uma vez que remanescentes de supernovas conhecidos na nossa galáxia são visíveis em telescópios ópticos e geralmente menores, a menos que estejam extremamente próximos.

Uma das hipóteses mais aceitas para explicar o Kýklos é que ele seja o resultado da perda de massa de uma estrela massiva, possivelmente do tipo Wolf-Rayet. A estrela HD 164455, localizada na mesma direção, é uma das possíveis candidatas, mas é pequena e mais próxima do que o esperado. Existem outras três estrelas mais distantes que também podem estar associadas ao Kýklos, mas ainda faltam dados suficientes para confirmar essa relação.

O MeerKAT, assim como o ASKAP, foi inicialmente projetado para testar conceitos e melhorar as especificações dos futuros telescópios Square Kilometer Array (SKA), que serão construídos na Austrália e na África do Sul. No entanto, essas observações já trouxeram à tona novas classes de objetos, como os ORCs e o Kýklos, o que eleva as expectativas em relação às futuras descobertas que os SKAs poderão proporcionar.

Via Olhar Digital

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