Testemunhas que depuseram no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira, 27, descartaram suposto viés político de uma reunião da qual participou Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, em outubro de 2022, durante o 2° turno das eleições, na sede da pasta.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o encontro serviu para Torres orientar agentes da Polícia Federal (PF) a atrapalhar eleitores de Lula de votarem no Nordeste. O então chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, participou das discussões que teriam como objetivo o favorecimento de Bolsonaro na disputa contra Lula.
Um dos que negou a acusação da PGR foi Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de operações da PRF. Interpelado pelo advogado de Torres, Moura disse que o pedido do então ministro não foi direcionado para beneficiar candidatos. “Não houve nenhum pedido de direcionamento para nenhuma região”, afirmou. “Nos foi solicitado que as instituições apresentassem os seus planos, como de praxe é feito, e havendo alguma necessidade de recurso adicional, fosse solicitado.”
As demais testemunhas também disseram que a reunião era de “praxe” e sem motivação política. Declararam isso as seguintes pessoas: Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações da PRF; Caio Rodrigo Pelim, ex-diretor Combate ao Crime Organizado da PF; Marcio Nunes, ex-diretor-geral da PF; Alessandro Moretti, ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (leia o depoimento aqui); e o delegado da PF Marcos Paulo Cardoso.
Depoimento de ex-diretor da PF, sobre Anderson Torres
Ao depor, o ex-chefe da PF afirmou que nunca ouviu de Torres nenhuma “medida antidemocrática”, tentativa de ruptura institucional nem proposta de estado de sítio. Marcio Nunes começou a trabalhar com Torres em 2007.
“Em nenhum momento do qual trabalhei com o ministro houve qualquer tipo de insinuação dessa natureza”, afirmou o ex-diretor da PF, que também ocupou o cargo de secretário-executivo no Ministério da Justiça.
Indagado a respeito de Torres ter apresentado alguma suposta minuta de teor golpista, em algum momento, o ex-diretor negou. “Nunca foi apresentado nada nesse sentido”, disse.
Live a respeito de urnas
Testemunhas também blindaram o ex-ministro quanto à live de Bolsonaro, sobre as urnas eletrônicas, realizadas em julho de 2021.
Segundo depoimentos, o ex-presidente obrigou Torres a participar do vídeo, ao passo que o ex-ministro manifestou “desconforto”.
Para Braulio do Carmo Vieira, ex-secretário-adjunto da Secretaria de Operações Integradas, Torres tinha “desconhecimento técnico” do sistema eleitoral, e por isso assessores prepararam um documento que foi lido pelo ex-ministro. “Houve, sim, um desconforto pelo desconhecimento técnico do tema, razão pela qual ele solicitou aos assessores que buscassem documentos sobre um determinado tema”, afirmou Vieira.
O delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira, ex-diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, outra testemunha, frisou que o documento lido por Torres era uma recomendação dos peritos, mas não se tratava de um laudo.