Nesta semana, os prêmios Nobel de Física e Química destacaram trabalhos no desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial (IA). (Escolha na moda? Absolutamente. Escolha séria? Também sim)
Mesmo os mais críticos em relação à IA teriam que tirar o chapéu para esses caras — sim, são todos homens — por seu trabalho, o qual é, em grande parte, complicado demais para eu abordar em profundidade aqui.
Mas, resumidamente:
Quando perguntado por um repórter se o comitê levou em consideração a conexão com IA ao julgar os indicados, um membro do comitê de química basicamente ignorou a pergunta e insistiu que as decisões foram tomadas puramente com base na ciência. (Quero dizer, você consegue imaginar? O comitê do Nobel permitindo que política ou relações-públicas influenciem suas decisões?)
O que me chamou a atenção com os prêmios consecutivos relacionados à IA foi como, pelo menos, dois dos vencedores têm visões tão fundamentalmente opostas sobre as futuras aplicações da tecnologia que eles criaram.
De um lado, temos Hinton, um pioneiro da IA que, no último ano e meio, largou o emprego no Google e começou a falar sobre os riscos existenciais da tecnologia. No ano passado, ele disse a Jake Tapper, da CNN, que a inteligência super-humana eventualmente “encontraria maneiras de manipular as pessoas para fazer o que ela quer”.
E do outro lado, temos Hassabis, um dos maiores entusiastas da IA.
Hassabis tem sido a face pública dos esforços de IA do Google e se descreve como um “otimista cauteloso” sobre a perspectiva de uma IA que possa superar o pensamento humano. Mas ele é essencialmente o oposto do pessimismo de Hinton.
Em uma entrevista ao podcast Hard Fork do New York Times em fevereiro, Hassabis invocou a ficção científica — mas apenas a com robôs benevolentes — para descrever um futuro idílico onde “deve haver uma enorme abundância de benefícios incríveis que só precisamos garantir que sejam distribuídos de maneira igual, sabe, para que todos na sociedade possam se beneficiar disso”.
(O que, a propósito, é exatamente o tipo de resposta típica do Vale do Silício que você ouve muito de pessoas que já são ricas, trabalham em ambientes amplamente acadêmicos e assumem que tudo o que está quebrado na sociedade é apenas um problema de design que um engenheiro pode consertar. Tipo, você não pode simplesmente minimizar o problema da distribuição igualitária — pergunte a qualquer pessoa que trabalhe, por exemplo, com alívio da fome. Mas isso é uma crítica para outro momento).
De qualquer forma, o que devemos pensar sobre a elevação desses pioneiros da IA ao Prêmio Nobel? À primeira vista, pode parecer que o comitê Nobel está comprando a ideia da IA das grandes empresas de tecnologia. Mas, como Matteo Wong, da Atlantic, observou, a abordagem do comitê Nobel foi surpreendentemente pragmática.
Enquanto fazia referência à IA generativa, Wong percebeu que ninguém mencionou o ChatGPT ou o Gemini ou qualquer outra ferramenta de IA voltada para o consumidor que as empresas estão promovendo.
“O prêmio não deve ser visto como uma previsão de uma utopia ou distopia de ficção científica por vir, mas sim como um reconhecimento de todas as maneiras pelas quais a IA já mudou o mundo”, escreveu Wong.
Da mesma forma, ao anunciar o prêmio de química na quarta-feira (9), os membros do comitê falaram muito sobre sequências de aminoácidos e bioquímica estrutural. O que você não ouviu o painel de cientistas falar: um futuro perfeito, livre de doenças e só de diversão proporcionado pela IA.
Eles falaram sobre a IA da maneira que eu gostaria que os executivos de tecnologia falassem sobre IA — como uma ferramenta técnica meio chata, que opera nos bastidores para ajudar os pesquisadores a descobrir coisas.
E essa é uma história mais convincente, talvez menos lucrativa, se você me perguntar, do que a que os executivos de tecnologia tendem a apresentar aos investidores.
Pesquisas sobre proteínas levam Nobel de Química