Apaixonado por cães desde a infância, John Fabiano, natural de Buffalo, Nova York, sempre se encantou com a relação entre humanos e seus companheiros de quatro patas. Mas transformar essa paixão em carreira parecia algo distante.
Isso mudou quando ele percebeu o quanto amava fotografar cães. Sentindo-se insatisfeito com a vida no mundo corporativo, Fabiano começou a traçar um plano de fuga.
Em 2022, tomou uma decisão radical: pediu demissão para viajar pelo mundo documentando os diferentes vínculos entre cães e seus donos.
Laços especiais
Nos últimos dois anos, Fabiano visitou diversos países, capturando imagens icônicas: foi à Groenlândia fotografar cães de trenó, à Alemanha para retratar pastores-alemães e ao Japão para registrar os carismáticos shiba inus — tudo parte de seu projeto Wags Around the World.
“Estou na casa dos 30 anos, viajando pelo mundo e fotografando cães”, disse ele à CNN Travel, via Zoom. “Saí do mundo corporativo e nunca estive tão feliz.”
Surpreendentemente, Fabiano só comprou uma câmera profissional em 2020. Durante a pandemia da covid-19, aproveitou para estudar fotografia e economizar dinheiro, preparando-se para essa nova fase da vida.
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Ao planejar seus destinos, ele decidiu dividir sua jornada em quatro categorias: cães selvagens, cães de trabalho, cães de raça pura e os que, por algum motivo, enfrentam dificuldades.
“Queria entender diferentes relações entre pessoas e cães ao redor do mundo”, explica. “A maneira como trato meu cachorro é muito diferente da forma como outros tratam os deles. Então, eu queria vivenciar essas diferenças de perto.”
A aventura começou em março de 2023, na Alemanha, onde conheceu uma mulher que criava dez pastores-alemães e sentiu uma conexão instantânea com sua história.
Mas o que mais o marcou foi perceber que, além dos laços com os cães, também estava construindo conexões profundas com pessoas ao redor do mundo.
A cadela dele, chamada Viola, sempre foi um apoio fundamental. Nos momentos difíceis, quando se sentia perdido, Fabiano se inspirava nela para seguir em frente.
“Muitas vezes, eu estava sem rumo, olhava para ela e pensava: ‘O que ela quer fazer?’”, conta. “E a resposta era simples: viver. Isso me tirava do sofá, me levava para a natureza, me fazia pegar a câmera. Esses foram alguns dos momentos mais felizes para mim.”
Fabiano passou a enxergar os cães como verdadeiros mestres da vida, admirando seu entusiasmo e vontade de explorar o mundo. “Não existe uma fórmula única para amar e respeitar os cães”, reflete. “Cada relação é única, e eles pedem muito pouco em troca.”
Após a Alemanha, Fabiano seguiu para a Groenlândia, onde capturou uma imagem durante um passeio de trenó que lhe rendeu o primeiro lugar na categoria documental do Dog Photography Awards 2024. “Aquela foto sempre será especial para mim”, disse.
Viagens marcantes
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A jornada continuou pela Índia, onde fotografou cães de rua ao lado do ativista Satish Waran, em Chennai. “Sentamos na areia, coçando a barriga dos cães enquanto o sol nascia”, relembra.
Em outubro de 2023, visitou a África do Sul para registrar os cães-selvagens-africanos, também conhecidos como painted dogs. Já para a seção dos cachorros azarados, foi à Irlanda fotografar raças restritas e percorreu os Estados Unidos documentando cães resgatados.
“Vi pastores-alemães e huskies lindíssimos, cães que custam milhares de dólares, abandonados em abrigos”, lamenta. “São animais altamente inteligentes e treináveis. Mas, claramente, os donos escolheram as raças erradas.”
Entre as viagens mais inesquecíveis, destaca os **40 dias na Austrália**, cruzando o país de van com outro amante de cães e conhecendo diversos tutores e seus pets. “Essa foi uma experiência única”, diz.
Entre desafios e aprendizados
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Fotografar cães não é tarefa fácil. Além da paciência para capturar o momento certo, há também o esforço físico. “Se fico algumas semanas sem fotografar e depois passo um dia inteiro fazendo isso, sinto a dor nos joelhos e nas coxas no dia seguinte”, brinca.
Apesar dos desafios, Fabiano prefere mil vezes fotografar cães a pessoas. “Não gosto de dirigir pessoas, dizer ‘vai para lá, faz isso’”, explica. “Com cães, eu apenas os deixo serem cães. Raramente tento posar um.”
Recentemente, levou Viola e sua namorada, Steph, para a Costa Rica, onde visitaram o Território de Zaguates, um santuário que abriga mais de 1.800 cães resgatados.
Ele ficou impressionado com o trabalho de Lya Battle, a fundadora do projeto. “Os cães estavam por toda parte”, diz. “Sempre amei cães resgatados. São meu tipo de cachorro. Vou adotá-los a vida inteira. Ver alguém fazendo um trabalho tão impactante, salvando tantos cães, foi inspirador.”
Mas nem tudo foram momentos felizes. Fotografar cães também trouxe experiências dolorosas. “Ver cães presos, abandonados ou em situação de rua e não poder fazer nada foi difícil”, confessa.
E continua: “Às vezes, eu conseguia acionar organizações locais, mas, como estava sempre viajando, não tinha como resgatar os cães por conta própria.”
Até agora, Fabiano já passou por 18 países. O próximo destino? Tailândia, onde deseja conhecer projetos de cuidado com cães de rua. “Admiro muito o trabalho de algumas pessoas lá, oferecendo alimento, cuidados médicos e proteção”, diz.
Também sonha em visitar as fazendas de ovelhas da Escócia para fotografar border collies em ação. “Esses cães são incrivelmente inteligentes e dedicados. O trabalho que fazem é impressionante.”
No entanto, apesar das conquistas, Fabiano enfrenta um dilema. Com as economias chegando ao fim, talvez precise retornar ao mundo corporativo. “O poço não secou, mas já vejo o fundo”, admite. “Tenho diplomas que preciso usar para ganhar dinheiro de novo.”
Mesmo assim, garante que nunca deixará de registrar a relação entre humanos e cães. “Vou fazer isso pelo resto da minha vida”, afirma. “É algo que me fascina.”
E, ao olhar para trás, sabe que o menino apaixonado por cães que um dia foi estaria orgulhoso de quem ele se tornou.