segunda-feira, março 10, 2025
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Americana se muda para a França aos 70 anos e diz: “Sou muito impulsiva“

Janice Deerwester sempre sonhou em morar na França, mas a vida parecia ter outros planos para ela. Natural do Texas e viúva desde 2012, ela vivia na Geórgia quando, em 2021, se pegou deitada na cama ouvindo mentalmente a música “Is That All There Is?”, sucesso da cantora Peggy Lee, em 1969, que fala sobre insatisfação.

“Eu odiava essa música quando foi lançada, mas, de repente, me veio à cabeça”, conta Janice ao CNN Travel. “E pensei: ‘É só isso? Trabalho, chego em casa cansada, durmo e recomeço. É só isso?’”.

Foi nesse momento que Janice percebeu que queria mais da vida. Sem pensar muito, decidiu se mudar para Fontainebleau, cidade francesa pela qual se apaixonou durante uma viagem em 2018. Menos de um ano depois, aos 70 anos, ela fez exatamente isso.

“Sou muito impulsiva, então essa decisão fez sentido para mim”, admite.

Hoje, vivendo em Fontainebleau, ao sudeste de Paris, Janice sente que tomou a melhor decisão da sua vida.

“Me sinto a mulher mais sortuda do mundo”, diz ela. “Não sei por que tive essa oportunidade, mas sou grata todos os dias por estar aqui.”

Embora não fosse infeliz nos Estados Unidos, Janice sentia que algo estava faltando. Ela gostava da vida no campo, onde alugava um rancho depois de vender sua casa. Mas o pensamento de que “deveria haver algo mais” não a deixava em paz.

Mesmo aposentada, trabalhava em dois empregos para ocupar o tempo e temia olhar para trás um dia e se perguntar: “Por que diabos eu não fui para a França?”.

Mudança radical

Depois de tomar a decisão, Janice ligou para a filha, Jennifer, então com pouco mais de 20 anos, para contar a novidade.

“No começo, ela ficou um pouco receosa, mas depois me apoiou totalmente”, lembra. “Ela disse: ‘Você sempre fez tudo por mim. Agora vá fazer o que você quer.’”

Janice inicialmente sonhava com um apartamento charmoso, com uma escada em espiral, mas percebeu que isso não seria viável após uma cirurgia no joelho em 2021. “Eu precisava de elevador”, conta. Assim, acabou escolhendo um apartamento mais simples, que já havia visitado em 2018.

Antes da mudança, vendeu o carro e se desfez de boa parte dos seus pertences, deixando alguns itens guardados para a filha.

“Se ela quiser a porcelana e os talheres, são dela. Se não quiser, pode vender. Eu não me importo.”

Bonjour, França!


Janice Deerwester
Janice em seu apartamento em Fontainebleau com seu cachorro Max • Arquivo pessoal/Janice Deerwester

Ao pesquisar sobre o estilo francês, Janice percebeu que precisaria repensar o guarda-roupa. “As mulheres francesas não andam pela rua de legging”, brinca.

Ela também solicitou um visto de visitante, permitindo que ficasse na França por até um ano. Em fevereiro de 2022, embarcou para sua nova vida, levando apenas três malas – sendo que uma delas estava quase toda cheia de sapatos – e seus dois animais de estimação: o cachorro Buster e a gata Kitty.

Como não era permitido viajar sozinha com dois animais, sua filha a acompanhou na viagem de Atlanta para Nova York e, de lá, para Paris.

“Achei que seria mais fácil para os bichos. No fim, foi mais traumático para mim do que para eles”, admite.

Os primeiros dias na França foram difíceis. Janice chegou a duvidar de sua escolha e, em um momento de crise, chorou ao lembrar de um par de tênis amarelos que deixou para trás.

“Claro que não era sobre os tênis. Era só a sensação de ‘Será que eu realmente pertenço a este lugar?’”

Depois de uma boa noite de sono e de comprar alguns móveis, as coisas começaram a melhorar. Mas a adaptação levou tempo.

Encontrando propósito


Janice Deerwester
“Sou simplesmente abençoada todos os dias por poder viver aqui”, Janice disse ao CNN Travel • Janice Deerwester

No início, até tarefas simples, como ir ao supermercado, eram estressantes.

“Sempre fui extrovertida, mas ficava apavorada na hora de pagar as compras. Morria de medo de meu cartão não funcionar e as pessoas pensarem: ‘Americana burra’”, conta. “Isso durou quase um ano.”

Com o tempo, Janice foi se sentindo mais confortável e construiu uma rede de amigos. Seguindo o conselho de um deles, criou um canal no YouTube, chamado Janice in France, onde compartilha suas experiências e que já conta com quase 30 mil inscritos. “Adoro fazer isso. Me dá um propósito”, diz.

Além do canal, Janice, que tem mestrado em aconselhamento, também lidera um grupo de apoio sobre envelhecimento, separação familiar e luto.

“Sei como é não ter com quem conversar”, afirma. Ela também se envolve em atividades da igreja e organiza festas de Natal para pessoas que estariam sozinhas nas festas de fim de ano.

“Acredito que todos precisamos retribuir. Tento ajudar minha comunidade e minha igreja sempre que posso. Precisamos de um propósito na vida. Não posso simplesmente acordar, brincar com o cachorro e passar o dia no iPad.”

A vida na França


Janice Deerwester
Janice, fotografada com amigos durante uma ida às compras, diz que muitas de suas roupas “foram embora” antes de ela chegar à França • Arquivo pessoal/Janice Deerwester

Apesar de frequentar aulas, Janice admite que seu francês não melhorou muito nesses três anos.

“As pessoas daqui adoram praticar inglês comigo”, explica. “E, claro, meu francês com sotaque sulista é péssimo”, brinca. “Mas consigo me virar. Pelo menos sei ler as placas para não cair em um buraco.”

Para ela, uma das melhores coisas de viver em Fontainebleau é a gentileza das pessoas.

“Se o trem está cheio, as pessoas levantam para me dar o lugar. Eu não me acho velha, mas acho que elas acham”, ri. “No ônibus, quando está chovendo ou muito frio, sempre me oferecem o assento.”

Outro fator decisivo para a mudança foi a proximidade com Paris, que fica a apenas uma hora de trem. Ela vai com frequência à capital para encontrar amigos e está animada para assistir ao musical “Hello, Dolly!” em breve. “Adoro ir a Paris, mas amo minha cidadezinha”, diz.

Diferenças culturais

Para Janice, um dos maiores choques culturais foi a importância que os franceses dão à família. “Nos EUA, tudo gira em torno do dinheiro. Aqui, a prioridade é a família. Os feriados são em família. O tempo livre é para a família”, observa.

Ela dá um exemplo: “Na minha cidade, e na maioria das cidades francesas fora de Paris, os bancos fecham às segundas-feiras. Você imagina isso nos Estados Unidos?”.

Por outro lado, a burocracia francesa pode ser um desafio. “Você não pode simplesmente pegar o telefone e resolver tudo rapidamente”, diz.

Ela ainda aguarda a aprovação do seu visto de longa duração, mas aprendeu a aceitar o ritmo diferente das coisas.

“Nos EUA, um corretor de imóveis te retorna em uma hora. Aqui, pode demorar três dias. Porque a prioridade dele não sou eu, e sim a família dele.”

Janice diz que raramente se sente solitária, mas admite que já teve momentos de desânimo.

Em um desses dias, foi até o Castelo de Fontainebleau e ficou observando as pessoas, refletindo sobre sua jornada.

“Fiquei observando as pessoas, olhando ao redor, tomei um chocolate quente, sentei-me e pensei: ‘Pronto, já deu. Vou para casa agora’”, conta Janice.

“Porque eu não sou do tipo que se sente sozinha. Moro sozinha, mas não estou sozinha.”

Recentemente, recusou um pedido de casamento de um “rapaz mais jovem” que queria que ela fosse morar com ele, já que “estamos envelhecendo e tudo mais”.

“Eu disse: ‘Não, não, estou bem. Obrigada’”, ela acrescenta.

Após três anos na França, Janice, agora com 73 anos, não tem planos de voltar para os EUA definitivamente. Para ela, sua melhor companhia é ela mesma, exatamente onde está.

“Nem consigo imaginar voltar para a Geórgia”, diz. “Quero dizer, ‘Janice na Geórgia’. Não. O que eu faria lá?”

Hoje, tem outro cachorro, Max — Buster faleceu no ano passado — e adora a liberdade de poder fazer o que quiser, quando quiser.

Embora sinta falta da filha e de comida mexicana, Janice conta que elas se falam sempre e que Jennifer adora visitá-la na França. Sua última viagem aos EUA foi há dois anos.

“Preciso voltar em setembro”, diz, acrescentando que, se pudesse escolher, nem retornaria.

Para Janice, já viu boa parte dos EUA e agora quer viver novas aventuras.

Ela espera que sua história inspire outras pessoas mais velhas a aproveitarem a vida ao máximo, seja lá o que isso signifique para cada um, para não chegarem ao fim dos dias pensando: “Poxa, queria ter feito isso”.

Ou pior, se perguntando: “É só isso?”. E ela continua: “Faça agora. […] Não precisa ser a França”.

“Pode ser se mudar para perto dos filhos. Ou se afastar dos filhos… Talvez tirar dois ou três meses do ano para viajar”, disse.

E completou: “Acho que, conforme envelhecem, as pessoas se acomodam tanto que não querem sair da zona de conforto. […] Mas, olha, quando você dá esse passo, descobre que a vida lá fora é incrível. É libertador.”

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Via CNN

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