Aliados do deputado André Janones (Avante-MG) mentiram em depoimentos à Polícia Federal (PF) ao negar a existência de rachadinha no gabinete, indica a corporação. Em um relatório obtido pela coluna do jornalista Paulo Cappelli, do portal Metrópoles, investigadores apontam que os depoentes “não falaram a verdade” e destacam “contradições” e “inconsistências” nas versões apresentadas.
A PF observa que Alisson, um ex-assessor parlamentar de Janones “se atrapalhou” ao tentar justificar suas movimentações financeiras. De acordo com a corporação, ele “alegou ter o costume de realizar saques em espécie por não ser muito ligado a modernidades relacionadas a transferências eletrônicas.”
Outras contradições de Camargos e outros aliados de Janones foram destacadas pela PF. “Alisson afirmou que nunca devolveu dinheiro e que na época em que foi gravado [confirmando ‘rachadinha’] mentiu para que Fabrício, também assessor de Janones, não pedisse dinheiro emprestado”. Na sequência, os investigadores apontam inconsistência.
“Alisson também afirmou em Termo de Declarações que Fabrício o aconselhava a juntar dinheiro para a campanha”, observa a PF, em trecho do relatório. “E [alega] que passou a falar que fazia dois meses que não devolvia dinheiro para ‘mostrar que estava juntando dinheiro para campanha’, o que também é completamente contraditório com a versão dos pedidos de empréstimo.”
Inconsistências em depoimentos de aliadas da Janones
A PF também registrou inconsistências nos depoimentos de Kamila Carvalho e Jéssica de Souza, assessoras de Janones. De acordo com a corporação, as duas indicam que, em algum momento, o esquema de “rachadinha” se manteve ativo entre a equipe do deputado, que integra a base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Kamila afirmou que, juntamente com Jéssica, orientou o deputado André Janones a desistir da cobrança [devolução dos salários]“, afirma a Polícia Federal. “Já Jéssica afirmou, sem titubear, que nunca mais conversou com Janones sobre isso [depois de a reunião cujo áudio foi revelado pela coluna].”
Além disso, a PF destacou que tanto Kamila quanto Mario Celestino Junior, outro assessor de Janones, “não falaram a verdade” em seus depoimentos. Conforme a corporação, ambos afirmaram que o parlamentar pediu que o dinheiro devolvido fosse usado para financiar campanha eleitoral — e não para reconstruir patrimônio.
Áudio da reunião em que a “rachadinha” foi discutida
Por fim, no relatório, a PF sinalizou que, no áudio da gravação de uma reunião com a equipe de assessores parlamentares, André Janones solicitou a devolução dos salários para “reconstruir seu patrimônio”, que teria sido “dilapidado”.
Graças a um relatório do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP), que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo com apoio do PT, Janones se livrou de responder a um processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Na esfera policial, no entanto, o cerco ao parlamentar se fecha cada vez mais, como indica o material da PF.